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sexta-feira, 25 de outubro de 2019

O MAGUSTO ANUAL (MEMÓRIAS SAUDOSAS)


A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e pessoas sentadas

O MAGUSTO ANUAL!
(Memórias saudosas)
Nesse dia ninguém tinha preguiça,
Acordávamos mal abria o dia,
Para os afazeres domingueiros:
Encher de água fresca a pia
Trazer feno e palha do palheiro
Fazer a cama à vaca, ainda…
Sempre numa lufa-lufa infinda
Até o sino chamar para a Missa

Após a Missa Dominical,
A que toda a gente assistia,
Formávamos dezenas de fileiras
Entre imposições e regras várias:
Casadas separadas das solteiras,
Mulheres à frente, homens atrás,
As “canalinhas” eram as primeiras
Dispondo-nos por faixas etárias,
Mas, numa barulheira infernal,
Como se houvesse guerra e paz
Lá encetámos a marcha ritmada
Ao som dos realejos dos rapazes,
Da concertina tradicional
Tocada pelo meu tio Ruim
E todos, num dissonante coral
Cantávamos as alegres modinhas
Mas, completamente incapazes
De acertar o compasso, assim,
Mesmo tendo vozes afinadinhas!...
Ali, éramos parte integrante
De um mar de gente mesclado
De homens e mulheres em movimento
Que extravasava pelo carreiro
Deixando para trás o povoado
Abrigo da amálgama errante
A caminhar para o cruzamento
Num dia de Outono soalheiro
Aquele dia era diferente
Mais buliçoso que dias de feira
Com maior contacto entre mais gente
Reuniam as aldeias vizinhas:
A Aldeia Velha e Lajeosa
Aldeia do Bispo e os Forcalhos,
Nessa encruzilhada espaçosa
Onde se acendia a fogueira
Com caruma, pinhas e alguns galhos
Bem distribuídos, como convinha
Ao centro da pedregosa clareira
Homens e moças já de mais idade,
Prevenidos de galhas bifurcadas
Que manobravam com agilidade,
Remexiam carumas abrasadas
Sobre as castanhas postas a assar.
Entrementes que elas se assavam,
Uma ou outra reboava no ar
E que grandes estoiros elas davam!...
Conforme nos íamos abeirando
Da confluência dos três caminhos
Das gentes vindas dos povos vizinhos
Que se despejavam para o largo
Dávamos as mãos para formar rodas
Umas dentro das outras a girar
Em alegres cantorias ou “modas”
Num coro nunca antes ensaiado
Mas que todos sabiam entoar
Agora, muito mais sintonizado
Recordo que as rodas debandaram
Mal deram as castanhas por assadas
Levámos uns cartuchos de jornais,
O que todos fizemos com prazer
Como se fora o maná do Céu.
Por fim, todas negras, enfarruscadas
Desde as pernas, mãos, braços e fronte
Com castanhas nos bolsos, no chapéu
E até na aba dos aventais…
Regressámos, os pais com os seus filhos,
O sol a despedir no horizonte
A cingir-nos ainda no seu brilho
No tom alaranjado da fogueira
Também ele, não queria partir
Mas era a hora de Sol poente…
Eu, já sem ganas de pinchar e rir
Pois, exausta de tanto alvoroço,
Tão enfarruscada como a noite
Só queria cama, adormecer
E recompor-me de tanto retouço
Por pouco me livrei de um açoite
Ao tentar deitar-me sem me lavar.
Deste Dia, nada mais sei contar!...

Georgina Ferro

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