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quinta-feira, 12 de março de 2015

AO NOSSO REDOR...!


AO NOSSO REDOR...!

Olhemos para todos ao nosso redor e vejamos o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia.
 Não temos amado, acima de todas as coisas.
Não temos aceitado o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro.
 Não temos nenhuma alegria que não tenha sido catalogada.
Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora, pois tememos que as catedrais que nós mesmos construímos, sejam armadilhas.
 Não nos temos entregado a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos.
Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga:
 TENS MEDO!
Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar, mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes.
 Não temos usado a palavra AMOR,  para não termos de reconhecer a sua contextura de ódio, de ciúme e de tantos outros contraditórios.
 Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar a nossa vida possível.
 Muitos de nós fazemos arte por não saber como é a outra coisa.
 Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada.
Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa.
Falar no que realmente importa é considerada uma gafe.
Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses.
 Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer «pelo menos não fui tolo» e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz.
Temos sorrido em público mais do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura.
Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo.
E a tudo isso consideramos  a nossa vitória de cada dia.
Reflitamos bem...!


Clarice Lispector

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