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quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

CONHECE-TE A TI MESMO!

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CONHECE-TE A TI MESMO!

Por Walter Albersheim, FRC
Revista “O Rosacruz” – Fev/1978
A máxima “Conhece-te a Ti mesmo” foi afirmada como a essência da sabedoria por vários escritores de todas as épocas, como Chaucer, Shakespeare, e Cervantes. Podemos remontá-la ao sábio grego Tales de Mileto e ao oráculo délfico sobre cuja porta de entrada estava ela inscrita.
O conhecimento de si mesmo é extremamente importante porque representa a diferença entre as mentes animal e humana. Os animais não são autômatos sem alma. Eles podem sentir, amar e odiar, pensar e aprender, como todo dono de um cão poderá provar.
O conhecimento do mundo exterior é necessário para a sobrevivência, porém mesmo em sua forma humana ele não difere muito dos impulsos instintivos adquiridos através de eras de evolução pela sobrevivência dos mais capazes. O conhecimento de si mesmo é a alavanca com a qual o homem (e por intermédio deste, o Cosmos) compreende sua própria natureza e essência. Decidamo-nos, pois, a obedecer à grande injunção! Mas, onde começarmos? Qual o Eu que deveríamos aprender a conhecer?

O Corpo

Longe de ser um inimigo e empecilho para a alma, nosso corpo é uma máquina maravilhosa e útil, e certamente uma parte de nós mesmos. Devemos chegar a saber o que o torna sadio ou doente, forte ou fraco, aliviado ou angustiado. Tudo isto é ensinado por regimes de higiene, dieta, e exercício, com e sem apoio místico.
É bem sabido que o exercício físico tem sido aprimorado pela arte hindu da Hatha Yôga, que ensina o controle do corpo para propósitos espirituais. Os Rosacruzes praticam técnicas algo similares que são menos vigorosas e demoradas e levam mais rapidamente, do controle do corpo à compreensão e conhecimento do corpo. Os Rosacruzes aprendem cedo, em seu curso de estudos,a focalizar sua consciência, em ordem ascendente, sobre várias partes, membros e órgãos do corpo. Por meio dessa técnica, aprendem a sentir, estimular ou relaxar qualquer das centenas de músculos, mesmo aqueles que são usualmente considerados como estando sob controle do chamado sistema nervoso involuntário. Como parte desse regime, o controle da respiração ajuda a vitalizar o corpo.

A Mente

O conhecimento e o controle de nosso corpo são conquistas proveitosas; todavia, as próprias palavras conhecimento e controle indicam que não somos apenas corpos viventes mas também mentes conscientes. A nossa mente não é o mesmo que o cérebro, como pensam alguns materialistas. O cérebro é uma parte do nosso corpo que serve como agente e instrumento da mente e, em outras palavras, sábia e maravilhosamente feito: um computador muito mais complexo do que as grandes máquinas de computação que o homem recentemente inventou e construiu. Como todos os computadores, o cérebro pode ser subdividido em mecanismo de operação e controle, e uma memória que recebe e armazena as entradas com informações, necessárias para a operação significativa.
As memórias de computador são estimadas em milhões de unidades básicas, mas o cérebro humano retém muitos bilhões de impressões em toda uma vida. Há razões para acreditar que a menos que seja fisicamente destruído, nosso cérebro jamais “esquece” qualquer acontecimento ou pensamento a que tenhamos dispensado considerável atenção. A dificuldade reside na “lembrança”, isto é, no acesso aos itens que desejamos recordar. Aprimorar e controlar esse acesso são parte importante do conhecimento de nós mesmos. O estudo místico leva a esse domínio por meio das técnicas de relaxação, visualização e meditação.
Como antes afirmado, todavia, nosso maravilhoso cérebro é o instrumento da mente, e não a própria mente. Negar tal coisa seria o mesmo que acreditar que um computador pensa quando realiza difíceis operações matemáticas e lógicas sob o controle e orientação de um programador humano. Para os monistas e materialistas, não há diferença entre o corpo, cérebro e mente; na verdade, os fenômenos da mente são quase sempre menosprezados ou negados, como se fossem algo de que devêssemos nos envergonhar.
O místico introspectivo “sabe” ou, pelo menos, “sente” diferentemente. Para ele, o pensamento e a consciência, isto é, a mente, é parte tão básica e fundamental do conhecimento, quanto a matéria ou o corpo. Para ele, corpo e mente podem ser aspectos da mesma e única essência universal que permeia o Cosmos, tendo eles, porém, polaridades diferentes e, portanto, qualidades diferentes.
AS EMOÇÕES

Compreendemos corpo e mente como partas distintas em nosso Ser, representa passo importante para o conhecimento de nós mesmos como instado pelo Oráculo (Apolo, Delfos), porém introspecção ulterior revela que o simples pensamento compreensivo é ineficiente, e que a ação é induzida por um terceiro elemento de nosso ego chamado instinto, impulso, ou emoção. Reconhecidamente, as emoções podem ser condicionadas fisicamente.

Do mesmo modo que um cérebro doente pode perturbar a mente, a hidrofobia pode nos levar a fúria incontrolável. Os antigos reconheciam quatro temperamentos básicos no homem, e acreditavam que eles correspondem à predominância de um dos quatro importantes fluídos do corpo.

Os Rosacruzes afirmam que o funcionamento de nossas glândulas endócrinas pode auxiliar ou prejudicar os estados místicos. A ação recíproca entre as emoções e o corpo se processa de ambas as maneiras e tem evidente valor na sobrevivência. Em momentos de perigo, nosso medo ou ira produz uma descarga de adrenalina que nos permite lutar ou correr, ao passo que os hormônios secretados por nossas glândulas sexuais, despertam o desejo de procriar a espécie. Em qualquer dos casos, a emoção é o agente que induz ação por parte do corpo e da mente.

Necessidade de Maior Conhecimento


O filósofo que se apercebe da distinção e interação do corpo, do intelecto e das emoções é, na verdade, sábio; sábio de acordo com o Oráculo de Delfos quando chamou Sócrates o mais sábio dos homens. Por que, então, desprezou esse sábio o elogio do Oráculo confessando que sua única sabedoria era a compreensão de sua total ignorância?

Se formos sinceros, deveremos admitir que, embora o gênero humano tenha acumulado muito conhecimento de detalhes desde os dias de Sócrates, ainda não compreendemos a natureza interior do Ser. Os engenheiros elétricos, por exemplo, sabem como a água desliza como a combustão ou energia atômica é convertida em força elétrica, transformada em alta voltagem e levada a consumidores distantes, mas não sabem o que é a eletricidade.

Os bioquímicos sabem como a nossa capacidade hereditária é codificada na “dupla hélix” das moléculas de DNA. Conhecem bastante acerca das células animais e vegetais, seu desenvolvimento, declínio, e resistência à infecção. Não importa, porém, quantos segredos da vida possam desvendar, não sabem o que é a Vida.

Todos nós agimos, planejamos e pensamos, mas não sabemos o que são a vontade e o pensamento; de outro modo, nenhum de nós acreditaria que um computador pode pensar e planejar. Evidentemente, o elemento básico está faltando no conhecimento de nós mesmos, e deveremos buscar conceitos outros que não os até aqui analisados.
O Conceito da Alma

Os carolas antiquados triunfalmente afirmarão que somos ignorantes porque desprezamos a alma de Deus, que criou a matéria e a mente, o corpo e a alma. Antes de concordar com essas afirmações de dualismo total, indaguemos se a falta não pode estar nas concepções excessivamente acanhadas de corpo, mente, e impulsos interiores. É possível que a alma esteja contida em outros elementos do nosso EU, se ampliarmos suficientemente o nosso ponto de vista.
Concepção Mais Ampla do Eu
Comecemos com o nosso corpo! À primeira vista, parece ele uma massa sólida de matéria bem definida em peso, tamanho e forma. Na realidade, sabemos que a substância do nosso corpo está constantemente se transformando pela nutrição, respiração e eliminação.

À luz da ciência moderna, este nosso corpo compacto consiste de cerca de cem bilhões de células individuais e ativas. Cada célula por sua vez, consiste de bilhões de moléculas que podemos ainda subdividir em átomos formados por prótons, nêutrons, elétrons, e assim por diante. Quando investigamos do que consistem partículas elementares como os elétrons, nada encontramos senão energia condensada e polarizada. Sempre que duas partículas de polaridade oposta colidem, sua natureza corpuscular desaparece em um lampejo quantum de “ondas” de energia vibratória.
Do mesmo modo que as partículas são simples padrões de energia, também o são as moléculas, células, e nosso corpo como um todo. Na verdade, o universo físico inteiro é um simples padrão de energia. Concluímos que do ponto de vista material não há divisão e separação acentuada entre a menor partícula e o universo como um todo.

Pois bem, onde entra a Mente? Sabemos, com o peso total do conhecimento interior, que possuímos mente e consciência. Nas palavras de filósofo Descartes: “Penso, logo existo.”

Como definimos e delimitamos o atributo de pensamento ou de consciência? Fisicamente, não podemos localizá-lo, mesmo se os conceitos primitivos o identificarem com o cérebro. Os exercícios místicos confirmam que ele está difuso por todo o nosso corpo e pode ser focalizado em qualquer das suas partes. Sabemos que os animais são conscientes, e podemos concluir que pelo menos rudimentos de consciência se estendem até os organismos unicelulares e talvez mesmo, mais baixos, os cristais, as partículas elementares, e os padrões de energia. Nesse caso, devemos atribuir certa intensidade de consciência às células individuais de nosso corpo, e o nosso nível mais elevado de consciência como ser humano é o ponto focal da célula complexa de consciência; um padrão, ao invés de uma entidade compacta.

Devemos ter cautela, todavia, ao interpretar os padrões mentais em sentido espacial. Mesmo em nosso corpo, não podemos localizar a sede da mente. De conformidade com a filosofia profunda de Kant, tempo e espaço são considerados formas de intelecto humano e não se aplicam à mente.

Se não podemos estabelecer um limite para o domínio da mente na parte inferior da escala, o mesmo se aplica à parte superior e maior. Podemos, assim, imaginar dois “padrões” difusos por todo o universo: energia física e poder mental. O misticismo Rosacruz considera ambos como diferentes aspectos polares de uma Força difusa.


Da mente, passamos para os impulsos emocionais. Uma vez mais, a introspecção nos dia que temos desejos, paixões, aversões e temores. Do ponto de vista materialista, todos eles podem ser considerados como expressões do desejo de sobreviver, impulso básico da evolução. A despeito das interpretações que nada explicam, estamos certos desses impulsos em nós mesmos, e observamo-los nos animais ao nosso redor. Chegamos mesmo a perceber uma conduta intencional em plantas e organismos unicelulares. Devemos presumir impulsos similares nas células de nosso corpo; eles são fortemente trazidos à nossa atenção por uma dor de dentes ou por células feridas da pele.

Se nós, também neste particular, não vemos limite mínimo para impulsos e expressões emocionais da vontade e da preferência, não devemos extrapolar para os limites máximos e conferir vontade ao universo, a um Cosmos intencional? Quais podem ser os desejos e impulsos do mundo como um todo?

Tem sido corretamente afirmado que o universo, mesmo que o simbolizemos como um Deus onipotente, onipresente e eterno, não tem inimigos para derrotar e nem morte para temer. Portanto, ele não necessita de planos ou “grandes propósitos.” E mesmo assim, podemos acreditar que ele é mais pobre em satisfação emocional do que nós, suas partes fisicamente tão insignificantes?

Como seres humanos, somos capazes de prestar auxílio desinteressado e amar outros seres. Podemos também amar e apreciar coisas que aparentemente não tem utilidade pratica, como as cores magníficas de um por do sol ou uma pequena flor, os sons harmoniosos de uma sinfonia e do canto de um pássaro. Se nós, as partes, podemos nos empenhar em aumentar a beleza, a harmonia e a felicidade do mundo, não podemos atribuir disposição similar a um Eu Maior do Universo? Devemos, naturalmente, lembrar que a interpretação da estrutura de tempo e espaço é moldada pela nossa mente humana limitada, e que aquilo que percebemos como evolução lenta pode ser para sempre fixado na mente Eterna do universo.

Se acreditamos, todavia, com seres humanos, que a Mente Maior desfruta de todo o bem, de toda a harmonia do universo, então devemos também acreditar que ela conhece a partilha de todo o sofrimento de todos os seres. Se somos filhos da Luz, algo dentro de nós proclama que a alegria e o amor excedem em valor à tristeza e ao mal, e que a vida é valiosa e também inevitável.

Levamos algum tempo tentando interpretar a injunção do Oráculo, e verificamos que o Eu que deveremos descobrir compreende o mundo inteiro. Como seres humanos, somos incapazes desse conhecimento; nossos poderes, todavia, tornam-se infinitos quando podemos nos lançar nas profundezas da Consciência Cósmica e do amor, que tudo abarcam. Essa meta suprema do misticismo é o significado real da exortação délfica: “Conhece o Universo como a ti mesmo.”

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