O MEDO VENCE OUTRO MEDO
Akari
gostava muito de ir à caça. Mas tinha sempre pouca sorte. De vez em quando
regressava de mãos vazias. Nessa altura era gozado por todos:
— Sabes
porque é que não caças nada? Porque tens medo de entrar no mato!
Um dia,
Akari, após ter andado imenso, sentiu fome. Viu uma aldeia e pensou:
«Vou pedir
um pouco de sopa.» As pessoas da aldeia deram-lhe de comer e beber. Quando
ficou saciado, pensou:
«E para que
hei-de eu ir para outro sítio, se aqui me tratam tão bem?»
Decidiu,
então, ficar por ali. O povo da aldeia aceitou-o e deu-lhe um terreno para
cultivar. Akari fez uma cabana e, passado algum tempo, casou-se.
Um dia, não
tendo nada que fazer no campo, disse à esposa:
— Há muito
tempo que não vou à caça. Hoje vou ao bosque caçar uma boa gazela para o nosso
jantar.
Pegou na
lança, que já estava ferrugenta, e encaminhou-se para a floresta. Não sabia que
aí havia tantas feras.
Avançou
seguindo umas pegadas. Pelos ramos derrubados, compreendeu que tinham passado
por ali elefantes.
De repente,
apareceu correndo um leão, deteve-se a poucos passos de Akari, dando a
impressão de que estava à espera dele há muito tempo.
O rei da
selva abriu a bocarra e deu uns rugidos tão fortes que as folhas começaram a
cair das árvores.
O caçador
sentiu-se perdido. Não tinha por onde escapar. Olhou em redor. À direita tinha
um grande matagal cheio de espinhos.
Fugiu para
lá sem pensar no que fazia. Os espinhos rasgaram-lhe a pele, mas o medo era
mais forte do que a dor.
O leão
aproximou-se do matagal, mas quando viu os espinhos tão grandes e afiados,
preferiu sentar-se à espera. Esperou três dias; mas, faminto e desiludido,
foi-se embora.
Entretanto,
na aldeia, aperceberam-se do desaparecimento de Akari. Encarregaram Rata, um
famoso caçador, para ir ao bosque procurar o infeliz desaparecido.
Rata entrou
na selva e, pouco depois, passou pelo matagal espinhoso.
— Quem está
aí? — perguntou uma voz do meio dos espinhos.
— Sou eu!
— E quem és
tu?
— Sou Rata e
ando à procura de um homem que se perdeu na floresta.
— Sou eu
esse homem. Ajuda-me a sair daqui.
— É como é
que tu foste parar aí?
— Foi o medo
que me fez vir para o meio destes espinhos.
— Está bem,
eu vou tirar-te daí.
Rata pegou
em erva seca, colocou-a à volta do matagal e lançou-lhe fogo. Ao ver-se rodeado
pelas chamas, Akari deitou a correr outra vez através dos espinhos e saiu.
É bem
verdade que um medo vence outro medo.
Fábulas
africanas
Lisboa,
Editorial Além-mar, 1991
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