AMIZADE!
Por Doreen Eustice
Amizades verdadeiras são
tesouros maravilhosos a serem encontrados nos caminhos e encruzilhadas da vida.
São pepitas a serem cuidadas e valorizadas pela riqueza que trazem às nossas
almas. Infelizmente, apenas poucos de nós as tratam adequadamente e doam o
tempo que elas necessitam para florescer e prosperar. Elas geralmente murcham
por negligência quando as deixamos de lado para assumir diversas
responsabilidades e pressões que acometem as pessoas de todas as gerações,
principalmente a carreira e os compromissos familiares.
Uma das principais razões
pelas quais muitos bons relacionamentos murcham é o surgimento de um “parceiro
para a vida toda”, possivelmente uma “alma gêmea”, mas definitivamente uma
distração. Quando isso acontece, muitos de nós sucumbem ao charme e os colocam
em primeiro, por último e no meio das pessoas com quem queremos passar um
tempo. Assim, aqueles que têm sido fiéis companheiros, aqueles com quem podemos
fofocar no telefone ou marcar um café ou um almoço, são abandonados pelo novo
“grande e único” em nossas vidas. Foi um grande conselho do autor do livro
sobre Runas Celtas, Ralph Blum, “deixar os ventos dos céus dançarem entre
vocês”. Infelizmente é o que o recém apaixonado raramente faz!
Há algum tempo, uma velha
amiga, de longa data, veio à minha porta com uma vasilha coberta e anunciou que
ela estava me apresentando o bolo da amizade, um bolo da amizade alemão que se
chama Herman e que tem circulado o globo como se fosse uma corrente por carta,
provavelmente desde logo após o começo dos tempos. A vasilha continha um pedaço
de massa e uma lista de instruções escritas à mão para o futuro bem-estar de
Herman para serem realizadas ao longo dos 10 dias subsequentes.
Nós rimos quando eu li a
folha que começava com uma advertência: “Meu nome é Herman, sou um bolo de
massa azeda e preciso ser mantido na sua bancada da cozinha por 10 dias sem a
tampa. Eu morrerei se me colocar na geladeira. Eu morrerei se eu parar de
borbulhar.” As regras exigiam que Herman fosse mantido em uma vasilha de dois
litros, coberta com um pano de prato. Ele precisa ser mexido nos dias dois e
três e alimentado com pequenas quantias de farinha, açúcar e leite antes de ser
mexido e colocado novamente para dormir sob seu cobertor, o pano de prato.
Os dias cinco, seis, sete
e oito necessitam de uma mexida mais vigorosa para manter a massa viva e no
ponto. No dia nove ele fica com fome novamente e precisa de mais farinha,
açúcar e leite para saciar seu apetite. Neste ponto, você divide a massa
viscosa em quatro porções iguais, entrega três porções para amigos com cópias
das instruções e adiciona à porção que você guardou uma quantia de ingredientes
de bolo incluindo ovos, especiarias, óleo, maçãs cortadas, nozes e passas antes
de encerrar a vida passada de Herman, ou seja, assá-lo e servi-lo à nova e
decorada nata fresca.
Pelos primeiros dois dias
eu estava encantada, mas no dia três eu o esqueci completamente e no quarto dia
me encontrei resgatando-o de seu suspiro da morte na 11º hora, literalmente às
11h da noite, com o complemento dos ingredientes.
Resumindo a história pela
metade, decidi que eu realmente não gostava do Herman. Era como ser responsável
por um bichinho virtual tirânico, como um Tamagotchi do tipo que foi
frequentemente banido das salas de aula dos anos 90 porque os professores
frustrados tinham suas lições interrompidas por alunos alimentando e exercitando
seus filhos eletrônicos. Eu não gostava da responsabilidade de cuidar dele, de
atender suas necessidades ou do espaço que ele ocupava na minha modesta
cozinha.
Posso até ter pensado
possivelmente em pendurá-lo para os pássaros, mas eu realmente queria cortá-lo
e distribuí-lo aos meus amigos? E mais tarde eu queria adicionar uns quarenta
reais de ingredientes à sua massa misturada e esmagada há dias para um prato
ligeiramente menos tentador que vísceras com creme? Antes de responder, tenha
em mente que a última vez que fiz um bolo eu tinha tranças e um uniforme
escolar e agora estou sacando uma aposentadoria.
Em um momento insensível
de firme decisão eu, sem piedade, joguei o Herman no lixo junto com conteúdo do
aspirador de pó. Herman se misturou com a poeira e suas últimas bolhas
explodiram. Porém, Herman vive nas cozinhas de incontáveis vítimas de amizades
encerradas e também online ao toque de um motor de busca. Procure por ele se
você quiser conhecê-lo. Não serei responsável por suas ações lhes passando a
receita.
Amigos, leitores, posso dizer pela experiência: Se você gosta de
alguém e o valoriza, então demostre o que essa pessoa traz para a sua
vida. Dê-lhe tempo, uma conversa, um ouvido amigo ou um presente que não
venha agregado de responsabilidades e culpa. Ligue para ele, lhe escreva uma
carta, envie um cartão. Convide-o para um almoço. Convide-o para dividir uma
agradável garrafa de vinho, e converse entusiasmadamente sobre as coisas que
importam na vida, ou as coisas que não importam, principalmente! Façam um
passeio juntos, uma jornada de meditação, divida qualquer coisa que você tiver
na despensa que cozinhe em 20 minutos e desapareça com o lavar da louça, mas,
independentemente do que decidir para fortalecer essa maravilha faculdade que
chamamos de amizade, não lhes dê um bolo de amizade.
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