A UNIDADE DA VIDA!
“Nenhum
homem faz uma ilha exclusivamente de si mesmo. A morte de qualquer homem
torna-me menor porque sou parte da humanidade. Portanto, jamais mandes saber
por quem dobram os sinos; eles dobram por ti”. – John Donne
A
citação acima contém cinco palavras que foram tornadas famosas pelo moderno
autor Ernest Hemingway, ao selecioná-las como título de um trabalho que se
tornou uma das novelas mais vendidas de todos os tempos.
Provavelmente,
poucas pessoas, exceto os estudantes de literatura inglesa do Século 17,
ouviram falar de John Donne, que nasceu em 1572 e morreu em 1631. Era ele
teólogo, autor e reitor da Catedral de São Paulo. Alguns de seus provérbios são
mais conhecidos do que sua vida. Uma outra famosa citação, “Morte,
não sejas orgulhosa“, provavelmente mais conhecida do que o autor,
é parte dos primeiros versos de um de seus poemas.
Quando
pensamos na época em que John Donne viveu, ficamos, mesmo, mais impressionados
por sua afirmação de que o homem, no sentido completo da palavra, não é uma
ilha. O homem não está isolado no tempo ou no espaço, ou em sua relação com
outras coisas vivas. Por outro lado, ele não existe por si mesmo. A decadência
ou a posição social melhorada de um homem, em qualquer grau, afeta todas as
outras vidas. Não seríamos os mesmos, se nenhum Ser humano estivesse passando
por estágios de desenvolvimento ou de transformação que tornam característica a
sua manifestação neste plano terreno.
A razão
de isso ser verdade é que a vida é uma unidade. A vida é uma manifestação
fundamental que se faz sentida por vários meios. Se houvesse apenas uma
expressão de vida, isto é, se apenas um objeto físico fosse dotado do
privilégio de viver, então a vida seria, verdadeiramente, um acontecimento ou
manifestação única. Todavia, em sua própria singularidade, perderia propósito
ou significação porque não haveria qualquer outra expressão da mesma energia
para perceber sua existência e patentear que um acontecimento único havia tido
lugar.
Neste
planeta, a vida parece ser um artigo barato e abundante. Expressa-se,
literalmente, em milhões de formas, desde o mais insignificante animal ou
vegetal unicelular, até à complexidade do mamífero, do qual o homem é
considerado como o mais altamente evoluído. De todas as formas de vida,
atribuímos maior significação à sua expressão no homem do que em qualquer outra
forma. Assim, a unidade de vida parece ser esquecida em nossa percepção de suas
múltiplas formas de manifestação. Há tantos exemplos de vida ao nosso redor, em
nossa própria espécie e nos reinos animal e vegetal, que o valor da vida,
algumas vezes, perde sua significação, até que estejamos, de um ou outro modo,
ameaçados de perde-la, como nosso próprio privilégio e expressão individual.
Em toda
história, o homem tem muitos exemplos de como tem abusado dessa expressão de
vida. Frequentemente, ele tem vivido como se fosse uma entidade isolada no
universo. Vive como se fosse seu único objeto criar, para si mesmo, certos
prazeres e conforto. Esta modalidade de expressão de vida, este indivíduo
egoísta, egocêntrico, devota toda a sua energia à posse dos objetos que, pensa,
lhe trarão fortuna, prestígio ou satisfação e, em assim fazendo, considera sua
própria vida como a única vida que tem qualquer significação.
Semelhante
atitude de avidez – isto é, de tentar obter mais e mais do mundo físico –
representa a acentuação, contínua e crescente, do indivíduo como entidade
isolada, como a única expressão de vida que lhe é de importância. Todavia, como
escreveu A. Cressy Morrison, “O homem não está só“,
existe como uma expressão de vida que é sinônima ou equivalente à expressão do
Criador.
Não tem
importância a maneira pela qual possamos filosofar ou formular nossa filosofia
com respeito à fonte e significado da vida. O que é importante é que, a
despeito de nossa Filosofia individual, estamos conscientes de que sem a
expressão de vida nada seríamos. Melhor dizendo, seríamos apenas um amontoado
de matéria física. Então estaríamos, verdadeiramente, isolados.
Não
haveria maior relação entre os indivíduos ou coisas vivas do que entre dois
objetos inanimados, grandemente separados. O homem, todavia, é afortunado, no
sentido de que é penetrado por um elemento, ou essência, que é a vida. Ela é a
ligação entre o homem e todas as outras coisas vivas, e entre o homem e os
valores e princípios que estão além do alcance da percepção física.
A vida
representa, ao mesmo tempo, nossas realizações finais e talentos. Aquilo em que
repousam os verdadeiros valores porque é, para o nosso corpo, o que a usina
geradora é para a lâmpada elétrica. A vida dá ao corpo a essência que permite a
sua manifestação. A lâmpada sem a eletricidade, seria vidro e metal inúteis.
O corpo
sem vida seria um amontoado inútil de elementos químicos comuns. Assim, a
unidade da vida é encontrada no fato de que, com a vida e na vida, podemos ter
compreensão do único fator que é comum a Deus e ao homem – ao homem e a todas
as coisas vivas. Consequentemente, estamos todos incluídos na humanidade, e
aquilo que exaurir uma forma de vida, exaurirá a outra. Na unidade da vida, a
vida cresce e se expande até que, em alguma época futura, se tornará
identificada com a energia que criou o universo, assim como com o seu propósito
e realização final.
Cecil A. Poole, FRC