O ipê à beira da estrada.
Não quero
perder a capacidade de admirar as belezas do mundo. O ipê florido à beira da
estrada é um imperativo que reconheço maravilhoso. Nele há uma fala de Deus me pedindo calma. A
sacralidade da vida ganhou voz em estruturas singelas, e solicita que eu preste
atenção.
É santo o
que os meus olhos enxergam. A cor amarela encontra moldura no azul dos
contornos do céu. Ao longe, o verde completa o quadro. Paira sobre a cena um
mistério raro, como se houvesse uma névoa a me recordar que a raridade da
beleza é uma dádiva divina.
O meu
desejo é deixar de seguir o caminho que me leva ao meu destino. Impossibilitado
da parada, ouso diminuir a marcha; quero
a cena dentro de mim. Ouso rezar a Deus que me permita registrar na memória a
beleza que não posso aprisionar.
Olho para
os que passam. A velocidade dos carros não permite que os seus ocupantes vejam
o que vejo. Eles estão privados da mística que só pode ser compreendida quando
os passos perdem a pressa. Estão ocupados demais com suas urgências práticas. É
preciso chegar. Há muitas iniciativas a serem tomadas e o tempo não pode ser
perdido.
Enquanto
isso, o ipê se ocupa de sua florada amarela. Cumpre no tempo a proeza de ser um
sentido oculto e deslumbrante para os distraídos que o percebem.
Nele há uma
pequena parte da beleza do mundo que tive a graça de descobrir. E só por isso
diminuí o ritmo da minha vida.
Olhei com
calma para sua beleza e nele percebi o sorriso do Criador. Sorriso de Pai, que
vez em quando, faz questão que seus filhos diminuam suas velocidades para uma
breve brincadeira de flores e cores.
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