Triste? Entrança teu cabelo!
“A
minha avó dizia-me que quando uma mulher
se sentisse triste, o melhor que podia fazer era entrançar o seu cabelo; de
modo que a dor ficasse presa no cabelo e não pudesse atingir o resto do corpo.
Havia que ter cuidado para que a tristeza não entrasse nos
olhos, porque iria fazer com que chorassem, também não era bom deixar entrar a
tristeza nos nossos lábios porque iria forçá-los a dizer coisas que não eram
verdadeiras, que também não se metesse nas mãos porque se pode deixar tostar demais o café ou queimar a massa.
Porque a tristeza gosta do sabor amargo.
Quando te sintas triste, menina- dizia a minha avó-
entrança o cabelo, prende a dor na madeixa e deixa escapar o cabelo solto
quando o vento do norte soprar com força.
O nosso cabelo é uma rede capaz de apanhar tudo, é
forte como as raízes do cipreste e suave como a espuma do atole.
Que não te apanhe desprevenida a melancolia minha
neta, ainda que tenhas o coração despedaçado ou os ossos frios com alguma
ausência.
Não deixes que a tristeza entre em ti com o teu cabelo
solto, porque ela irá fluir em cascata através dos canais que a lua traçou no
teu corpo.
Trança a tua tristeza, dizia.
Trança sempre a tua tristeza.
E na manhã ao acordar com o canto do pássaro, ele encontrará a tristeza pálida e desvanecida
entre o trançar dos teus cabelos…”
Compartilhado - Sil
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