Os Próximos Dez Anos
Excerto do livro “Misticismo Prático” de Edward Lee, publicado pela AMORC
Um estudante fez um dia a seguinte observação: “Há dez anos, eu estava lendo no transporte coletivo de uma grande cidade e levei um choque que me tirou da minha letargia. Foi um cartaz que provocou esta reação. O anúncio mostrava a imagem de um homem que tinha má aparência e que estava suando; ele carregava uma pesada carga de tijolos. A legenda estava redigida mais ou menos nestes termos: “Você não vai conseguir o trabalho de amanhã com as técnicas de ontem”. Eu me vi de repente como o personagem dessa publicidade e compreendi que eu mesmo estava imerso, na minha vida, num estado de inércia. Aturdido e apalermado, comecei a mobilizar minhas forças interiores para progredir a todos os níveis”.
A profundeza do choque interior vivido por esse estudante, que era como eu, pode ser avaliada pelo fato de que ele não dissera simplesmente: “Oh, é preciso que eu encontre um trabalho melhor”. Embora isto fosse uma boa sugestão, ele compreendeu que uma melhor preparação para o futuro devia ser empreendida em todos os planos, físico, mental e espiritual.
Bem compreendida, a progressão pessoal pode ser percebida de maneira diferente conforme as pessoas. Uma estudante estava sentada no seu escritório durante uma pausa, numa administração muito grande e muito ativa; ela estava lendo um número da revista O Rosacruz, dedicada ao misticismo, à ciência e às artes. Um colega de trabalho se aproximou dela e lhe perguntou: “Que é que você está lendo?” Essa mulher, prudente e intuitiva, querendo dar uma resposta estimulante, olhou para o homem que estava diante dela, mas teve imediatamente um sentimento de aversão. Por isto ela respondeu simplesmente: “Isto diz respeito ao desenvolvimento pessoal”. Seu colega deu um sorriso de deboche e disse: “Dê-me um milhão de dólares e eu vou melhorar”.
Por banal que tenha sido sua resposta, ele tinha vivido sua convicção pessoal o melhor que podia, segundo o seu desenvolvimento interior.
Quando alguém efetua mudanças profundas na sua vida, pode ir a ponto de refletir sobre a próxima encarnação, caso se acredite na reencarnação. Mas eu lhe sugiro que avance progressivamente. Tenha diante de si, digamos, os dez próximos anos. Que é que você vê de si mesmo então? Terá elevado sua mente e sua personalidade a um nível superior? Será uma pessoa mais calma, mais ordeira e mais honesta, alguém de quem as outras gostam de se aproximar? Terá descartado ideais ultrapassados e falsos em prol de aspectos mais nobres e belos da vida?
É importante estar consciente das diferentes épocas da vida, preparar-se para um adequado emprego futuro ou para períodos felizes de repouso no âmbito da aposentadoria. Porém, mais importante que tudo isto é a busca de uma realização pessoal e de harmonização com a sociedade em função da sua própria personalidade. Afinal de contas, cada um de nós é único e cada qual tem em si sua própria divindade, que pode guiá-lo e inspirá-lo na vida. Nem todo mundo pode ou deveria perseguir um objetivo no campo eletrônico, por exemplo. Assim como nem todo mundo deveria tentar se tornar um cantor de ópera. Olhando para dez anos por virem, diferentes pessoas podem nutrir esperanças e sonhos diferentes, em função de sua idade e de múltiplos fatores.
Como já dissemos, as pessoas que chegam à metade da sua vida podem se ver aposentadas nos dez anos seguintes. Que vamos fazer dos nossos dias quando tivermos nos afastado do mundo do trabalho? Pessoas muito mais jovens podem aspirar a se tornarem profissionais realizados, normalmente empregados nessa ou naquela empresa. Como chegar a isto? É agoraque é preciso se colocar estas questões, não daqui a dez anos.
Contemplemos por alguns instantes o filme da nossa vida sob um ângulo algo diferente. Que se passava há dez anos? O que você fazia? Melhor ainda, você poderia se perguntar porque fazia isso. Será que as pessoas, os objetivos, os planos e os ideais que você perseguia se traduziram numa melhoria da sua vida de hoje? Haverá algo que poderia ter sido feito melhor? Que fez você de bom? Em que você se enganou?
Com relação ao passado, não pleiteio que alguém sinta prazer no remorso ou nos pesares amargos. A vida acarreta sofrimentos suficientes para nós mesmos não acrescentarmos outros arbitrariamente. É sadio ter arrependimento pelas oportunidades que se desprezou, mas se deve também avançar mentalmente para o presente e fazer projetos para o futuro. É bom aprender as lições do passado, mas é perigoso viver constantemente nele.
E também, olhando para trás, concentremo-nos nos aspectos positivos, instrutivos, dos nossos atos e das nossas atitudes passadas. Mas, e o presente? Podemos ter agora a esperança de um futuro melhor? Deveríamos sonhar com um dia futuro glorioso? Vamos nós nada fazer e esperar uma vida melhor? Embora seja preferível conservarmos o Sol na nossa vida em lugar de anteciparmos com ansiedade um destino funesto e um desastre, é melhor fazermos planos para o futuro com toda consciência e com realismo.
O passado permanece na memória e nada pode modificá-lo; o futuro é o nosso potencial em imaginação e em visualização; mas o presente é tudo o que podemos realmente experimentar. Vivemos num eterno presente. O futuro se transforma permanentemente no presente e se torna então instantaneamente o passado, como a torrente que desce da montanha.
Para resumirmos, é para sempre uma lembrança. Deveríamos minimizar a importância dos nossos pesares e utilizar o que aprendemos para nos ajudar na nossa vida cotidiana. O presente é mais bem servido, não por sonhos ociosos, mas preparando o futuro de maneira prática.
Como já dissemos, quando consideramos o futuro, utilizamos a faculdade mental que chamamos de imaginação. Melhor ainda, podemos utilizar a técnica mística que consiste em tirar partido das forças cósmicas e determinar bem precisamente o objetivo específico que queremos alcançar. Feito isto, esse ideal deve ser dirimido de toda preocupação mental. Então, pouco a pouco, nosso objetivo será levado a bom termo, sob a condução e com a ajuda do Cósmico.
Com esta técnica de visualização, os místicos não só juntam seus pensamentos e os organizam num todo coerente e unificado, mas também submetem esse projeto, esse quadro realizado, ao julgamento e à sabedoria superiores de Deus.
Embora seja correto trabalhar para o futuro, prepará-lo bem e visualizá-lo a fim de viver melhores futuros, é também importante viver em harmonia com o presente. Viver plenamente o que cada dia nos oferece pode transformar a vida numa viagem maravilhosa.
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