SOLTANDO...!!!
A
Teoria do Caos é o fundamento científico do budismo e do Taoísmo. O Caos
governa o universo e faz todos os ajustes necessários para que o equilíbrio
permaneça. O Caos faz com que o fluxo seja contínuo às vezes e turbulento
outras vezes. O Caos implica tanto no nível micro quanto no macro. O desapego
não é uma coisa metafísica. Faz parte da essência do funcionamento do universo.
Da mesma forma que não podemos forçar o clima que queremos, também não podemos
forçar que um negócio dê certo. Existe uma ordem natural nas coisas. Este é o
fluxo que faz as galáxias nascerem e prosperarem. Como também qualquer negócio
ou necessidade humana. Se fizermos o que é preciso e deixarmos as coisas
acontecerem naturalmente tudo correrá bem.
Quando
forçamos as coisas para acontecerem no tempo que o ego quer o problema é
criado. Raramente o ego respeitará o fluxo universal. Quando a Iluminação
acontece o ego passa a servir o universo e é neste caso que o ego não atrapalha
o andamento. A questão aqui é que o tempo do universo não é o tempo humano. Às
vezes pode levar anos até o resultado aparecer e isso acontecerá quando não se
puser pressão. Como também pode ser no dia seguinte. O parâmetro sempre é não
pressionar, não ter ansiedade, não forçar, etc. Acontecerá na hora certa. Isso
é sabedoria milenar e toda pessoa que fizer a mesma experiência terá o mesmo
resultado. Por isso falam que não dá para ensinar, é preciso vivenciar. Só se
pode ensinar a técnica que é soltar.
A
modelagem climática é feita com fórmulas matemáticas. Essas fórmulas precisam
ser iteradas num computador veloz. O resultado da fórmula entra novamente na
fórmula e sucessivamente isso é feito até que o resultado final aparece. O
modelo está pronto e é compatível com a realidade observada. Não adianta fazer
a computação com menos iterações. É preciso esperar até estar completa. É a
mesma coisa com relação à Iluminação espiritual. Entra luz e a pessoa muda um
pouco. Entra luz novamente e muda mais um pouco. Novamente isso é feito. Cada
vez que entra luz a pessoa já está diferente pela luz que entrou na vez
passada. É um efeito cumulativo. E é por isso que funciona. Nunca acontece na
primeira vez. É preciso estar preparado para que possa acontecer. No Zen dizem
que o mestre bate no discípulo e este se ilumina na hora. A explicação é que o
discípulo já estava pronto e só faltava a última informação entrar. É
exatamente isso que é o Caos.
O
Colapso da função de onda é feito dentro do Caos. Uma única vez fazemos o
colapso (a escolha de algo) e então deixamos o tempo passar. Soltamos o
resultado. Continuamos trabalhando e estudando até que o resultado apareça, mas
sem ansiedade e nem forçar.
Quando
se fala que o trabalho criativo é 10% inspiração e 90% transpiração é a mesma
coisa que se está falando. Estuda-se o assunto para colocar o máximo de
informação no subconsciente e depois deixamos a incubação ser concluída. Então
acontecerá o insight a qualquer momento em que não se esteja ansioso.
O Caos
não é falta de ordem e organização. É justamente a organização do universo. É o
que mantém tudo funcionando. É a ordem subjacente que não vemos, mas podemos
perceber intuitivamente. Tudo no universo está conectado com tudo o mais. As
coisas aparentemente caóticas não são assim. Mesmo quando se lança dados num
jogo é o Caos que está administrando o jogo. Acontece que o Caos é capaz de
administrar qualquer resultado que aconteça. São as infinitas possibilidades. E
isso é a beleza e elegância do jogo. Sempre é surpreendente. Essa falta de
previsibilidade é que provoca a mudança contínua que é a essência do Caos. A
mudança tem de acontecer para que novas informações possam ser adquiridas. Por
isso um budista muda a pedra de posição quando passa por ela. Para a pedra foi
um efeito caótico que não poderia ser previsto por ela. E assim a pedra ganha
novas informações no seu caminho eterno de iluminação.
Quando
entendemos isso a visão de mundo muda radicalmente e olhamos o universo de
outra forma. Não há mais necessidade de por pressão para conseguir o que se
pretende. Há uma ordem e se aquilo for benéfico acontecerá. Neste ponto é
preciso entender que o jogo só termina quando acaba. Pondo pressão podemos
conseguir algo por algum tempo, mas isso mudará inevitavelmente por causa do
Caos, que restabelecerá o equilíbrio. Portanto, forçar não funciona. A história
está cheia de exemplos deste tipo de ação que força as coisas contra o fluxo
natural. E sempre o rio volta para o mar.
O
importante aqui é que seguir o fluxo é o maior poder que existe. Não existe
nada mais poderoso do que soltar. Só que é um paradoxo e o ego não consegue
entender a lógica disso. Então racionaliza para forçar o acontecimento.
Aprender a trabalhar com o Caos provê uma total libertação do paradigma
vigente. Isso chama-se transcendência. E a característica disso é a evolução
contínua, o crescimento sem parar, a mudança para melhor, a abertura para o
novo, a aceitação da realidade, é estar em fluxo com o universo. E o sentimento
de fluxo é o maior prazer que pode existir. Quando o foco está 100% no momento
presente o fluxo é total e somos inundados pelos neurotransmissores que nos dão
a alegria de viver em fluxo. Mais uma vez, só experimentando para saber o que é
isso. Quando sentimos um prazer estético como Stendhal sentiu ao visitar
Florença, o prazer máximo de contemplar obras de arte sem parar. Essa
contemplação da beleza é o Zen. O soltar também dá este sentimento de fluxo
cósmico, de unidade com a criação, de ser uno com o universo.
Isto
deveria ser o objetivo da vida de todo ser. Conseguir este espírito
contemplativo extático. No dia a dia. Trabalhando e sentindo isso. Estudando e
sentindo isso. O tempo todo. Todo ser que estiver focado 100% num objetivo
sentirá isso. Para sentir isso a pessoa precisa abandonar o sentimento de
controle. O universo é pura incerteza em termos pessoais. Viver na incerteza é
inevitável. Mas, podemos focar 100% mesmo na incerteza. Podemos colapsar a onda
mesmo na incerteza. Desta incerteza é que nasce o Cisne Negro. Os eventos de
criatividade absoluta. Essa criatividade é parte da essência do universo. E ela
flui por nós sem cessar. Basta aquietar a mente para percebe-la. O bater das
asas da borboleta é criativo porque é extremamente sutil. Parece não influenciar
nada, mas este bater das asas provoca um feedback positivo que é realimentado
sem cessar. É a iteração da fórmula com o bater das asas, sendo que a
informação entra na fórmula vezes sem conta. A exponenciação disso gera a
tempestade. E a simples borboleta está apenas focada em voar, mas as
consequências do seu voo são inimagináveis.
(Hélio
Couto)
Nenhum comentário:
Postar um comentário