O TRIÂNGULO DA CRIAÇÃO
No primeiro dia da Criação,
segundo a estória do Gênesis, havia somente luz, que não era específica. Três
dias depois, no quarto dia, a luz transformou-se especificamente em Sol, Lua e
estrelas, materializando e cumprindo o potencial de luz do primeiro dia. O
segundo dia da Criação trouxe a separação entre a água e o céu (firmamento).
Três dias depois, no quinto dia, surgiram criaturas vivas no mar e no céu,
cumprindo o destino do mar e do céu que tinham sido criados no segundo dia. No
terceiro dia da Criação, a terra foi separada da água e produziu vegetação.
Três dias depois, no sexto dia, a terra foi povoada de vida animal e pelo ser
humano, a quem foi concedido domínio. Isto cumpriu o propósito para o qual a
terra e o alimento vegetal tinham sido criados, no terceiro dia.
Cada um dos três primeiros
dias da Criação constitui um primeiro estágio, que se completa no dia
correspondente dos últimos três – uma simetria sutil que facilmente passa
despercebida. Quer dizer, a Criação, no Gênesis, ocorreu em duas etapas de três
dias cada, sendo a primeira preliminar e, a segunda, concretizadora. Em termos
de um triângulo (que é um símbolo favorito de criação ou manifestação) a
finalidade da Criação, no Gênesis, percorre duas vezes o triângulo.
A estória do Gênesis tem
ainda outras dimensões simbólicas. Dia após dia, nessa estória, vieram
sucessivas diferenciações – a luz diferenciada das trevas, a água do céu, a
terra da água, e miríades de diferenciações entre plantas, peixes, aves e
animais, “segundo sua espécie”. Esse mesmo princípio de diferenciação está na
raiz (e fornece uma espécie de previsão) de nossas modernas teorias de evolução
planetária e de continuada evolução biológica.
Em mais uma aplicação do
triângulo simbólico, a primeira etapa da Criação estabeleceu condições; a
segunda introduziu fatores ativos nessas condições. Um princípio do triângulo
consiste em que precisam estar presentes dois fatores como duas pontas do
triângulo – uma condição responsiva e um agente ou uma força ativa – para que
qualquer resultado ou manifestação surja como a terceira ponta.
A instrução hermética, em
filosofia mística, está estruturada num triângulo, de tal modo que a progressão
total, três vezes em torno do triângulo, deve completar o discernimento do
indivíduo sobre todas as coisas do céu e da terra. Não obstante, no ápice
completada a terceira volta, todas as pontas se fundem no UNO, no TODO.
Analogamente, duas voltas em
torno do triângulo da Criação respondem por seis dias de criação, quando a obra
da Criação ainda não estava concluída. O sétimo dia, o Sabbath, é a terceira
volta que completarão em si mesma, o dia em que Deus “terminou Sua obra”. Cada
um dos demais seis dias tem seu correspondente ou complemento. O Sabbath, em si
mesmo, é unidade, e também completa e unifica todo o restante da Criação.
Uma velha estória rabínica
salienta o padrão dual entre os seis dias da Criação pelo Senhor. Nessa mesma
estória, o Sabbath queixa-se ao Senhor por não ter um companheiro, um dia
correspondente ou complementar, como nos casos dos outros seis dias. O Senhor assegurou
ao Sabbath que quando o ser humano acolhesse e honrasse o Sabbath, este estaria
completo e realizado.
Isso pode ser entendido como
uma sutil paráfrase da ideia não expressa de que, quando o ser humano acolher,
aceitar e honrar (ou glorificar) sua divina fonte, então essa fonte será
cumprida ou realizada; e, em sua imagem ou seu complemento, ela reconhecerá a
si mesma pela primeira vez, porque pela primeira vez refletirá sua própria
natureza.
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