NOSSAS
CRIANÇAS
Otto
Lara Resende, jornalista e escritor, disse certa vez em uma de suas colunas:
“Uma criança vê o que o adulto não vê. Tem olhos atentos e
limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o
que, de fato, ninguém vê. E há pai que nunca viu o próprio filho, marido que
nunca viu a própria mulher. Isso existe às pampas! Nossos olhos se gastam no
dia-a-dia, opacos. É por aí que se instala no coração, o monstro da
indiferença!”
Isso é tão verdadeiro! Creio que não abrirmos os olhos de nossa
criança interior é sermos condenados por nossa maturidade!
Talvez não se possa acusar propriamente a maturidade pelos olhos
opacos, pela perda da criança e do poeta. Mas o olhar sempre voltado ao passado
sim, esse pode ser o grande responsável! Pois o passado pode se infiltrar no
presente, trazendo uma cortina de velhos hábitos de percepção que roubam a luz
do sol e impedem o ar da renovação entrar.
Ao mesmo tempo em que nossas experiências de passado nos trazem
conhecimento, podem também nos dar a impressão de que nada muda. De que, por
exemplo, uma vez vista uma paisagem, será sempre a mesma a partir dali. Ou que
as pessoas que conhecemos também serão sempre as mesmas. E com isso pensamos
ter que conhecer outras paisagens e outras pessoas o tempo todo, tentando
manter nosso olhar curioso e interessado. A vida começa a parecer uma corrida
contra o tédio!
Mas a mesmice está apenas em nossos olhos voltados ao passado,
pois cada minuto do presente é tão novo, mágico e belo! Tantas descobertas,
mudanças e detalhes nunca percebidos em nós, nas pessoas e no mundo estão agora
em nossa frente, no presente!
Como podemos enxergar essa explosão de vida e novidades quando
tudo o que percebemos é a cortina do passado? Atrás da cortina tudo é velho,
repetitivo, sempre o mesmo e tedioso dia! Nada muda e nosso espaço fica cada
vez menor, sufocante e escuro! Qual a motivação possível para se iniciar um
novo dia, se todos parecerão iguais? Na tentativa de dar algum movimento,
tentamos provocar novos e emocionantes eventos, mesmo que negativos, para nos
sentirmos vivos! Porém, a cortina faz com que os novos eventos passem a ser
rapidamente, tediosos e velhos eventos.
Sim! Nada consegue chacoalhar e banir o monstro da indiferença
caso não se recupere o olhar curioso da criança e a observação sensível de
nosso poeta interior, no momento presente.
Viver nossa criança interior é despertar para a excepcionalidade
de cada momento e ser feliz!
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