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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O VELHO PAI...!



O VELHO PAI!

O cenário é comum, a cena é singela.
Num banco de jardim da casa estão sentados um homem idoso e um jovem.
O jovem lê o jornal, com atenção.
O idoso parece imerso em algo indefinível...
Então, um pequeno pássaro pousa no arbusto próximo e canta.
 O homem parece despertar e indaga:
O que é aquilo? - apontando com o dedo na direção da pequena ave.
O rapaz alça os olhos e diz, secamente: É um pardal.
A avezita saltita de um galho a outro e a pergunta se repete:
O que é aquilo?
A resposta agora não é somente seca, mas também denota enfado: Já disse, é um pardal!
O pássaro voa do arbusto para a árvore, continuando na sua dança matinal.
O que é aquilo? – Soa de novo.
Agora, o rapaz se irrita e quase grita: É um pardal!
A ave, feliz, prossegue no seu bailar.
Alça voo e parece desaparecer.
 Poucos segundos passados e retorna ao chão, bicando aqui, saltitando acolá.
O homem leva a mão aos olhos, como se desejasse ajustar a visão embaçada e, com natural curiosidade, pergunta:
O que é aquilo?
O filho responde, em altos brados: É um pardal! Já disse: um pardal.
E soletra, aos gritos: P - a - r - d - a - l.
 Você não entende?
O homem se ergue, sobe os degraus, adentra a casa, lento e decidido.
Pouco depois, retorna com um velho caderno nas mãos.
A capa é bonita, denotando que foi guardado com cuidado, como se guardam preciosidades.
Abre-o, procura algo, depois o entrega ao rapaz, ainda inquieto e raivoso.
Leia!
- Ele pede.
E acrescenta: Em voz alta!
Há surpresa no moço, que lê pausada e cada vez  com maior emoção:
Hoje, meu filho caçula, que há uns dias completou 3 anos, estava sentado comigo, no parque, quando um pardal pousou na nossa frente.
Meu filho me perguntou 21 vezes o que era aquilo e eu respondi em todas as 21 vezes que era um pardal.
Eu o abracei todas as vezes que ele repetiu a pergunta, vez após vez, sem ficar bravo, sentindo afeição pelo meu inocente garotinho.
Então, o filho olha o pai...
 Há culpa e dor em sua alma!
Abraça-o, lacrimoso, beija-lhe a face, emoldurada pela barba por fazer.
Estreita-o, puxando-o para perto de si.
E assim ficam: um coração ouvindo outro coração.
Cenas como essa acontecem todos os dias, em milhares de lares, em todo o mundo.
Nossos anciãos, de braços dados com Alzheimer, demência senil ou problemática  indagam, perguntam, questionam...
A memória recente lhes falha!
Mergulhados em retalhos de lembranças do passado, não entendem porque recebem gritos como resposta.
Pensemos nisso!
E se as lágrimas nos umedecerem os olhos,  não tenhamos vergonha de abraçar com amor nosso velho pai, nossa mãe, vovó, vovô, madrinha, tia...

Agora...!


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