Artigos e Informações ligados ao Rosacrucianismo

quarta-feira, 17 de julho de 2013

PRIMAVERA!


PRIMAVERA!

A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la.
 A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.
Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.
Há bosques que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur.
 Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende...
Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol...
Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.
Mas é certo que a primavera chega.
 É certo também, que a vida não se esquece e a terra maternalmente se  enfeita para as festas da sua perpetuação.
Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim.
Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu.
 E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão  nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul.
 Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra.
Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.
Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento por fidelidade à obscura semente, ao que vem na rotação da eternidade.
Saudemos a primavera, dona da vida e efêmera!


Cecília Meireles

Nenhum comentário:

Postar um comentário