PRIMAVERA!
A
primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no
calendário, nem possua jardim para recebê-la.
A inclinação do sol vai marcando outras
sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam
pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.
Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.
Há bosques que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur.
Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.
Há bosques que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur.
Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar
as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas
apressam-se pelos ares e certamente conversam: mas tão baixinho que não se
entende...
Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol...
Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.
Mas é certo que a primavera chega.
Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol...
Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.
Mas é certo que a primavera chega.
É certo também, que a vida não se esquece e a
terra maternalmente se enfeita para as
festas da sua perpetuação.
Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim.
Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim.
Algum
dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem
independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu.
E os pássaros serão outros, com outros cantos
e outros hábitos e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se
entendeu e amou.
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul.
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul.
Escutemos estas vozes que andam nas árvores,
caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos:
lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai
tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra.
Os
casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume.
E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.
Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento por fidelidade à obscura semente, ao que vem na rotação da eternidade.
Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento por fidelidade à obscura semente, ao que vem na rotação da eternidade.
Saudemos
a primavera, dona da vida e efêmera!
Cecília Meireles
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