ESCOLHAS...
Se há coisa que aprendi, por uma questão de sobrevivência,
é que na vida temos as chaves das escolhas na mão.
Tal como as de casa, do carro ou do escritório.
São nossas e não as damos, sem mais nem menos, a ninguém.
Por quê?
Porque escolher é um ato intransmissível de liberdade.
Em tudo podemos dizer sim ou não.
Nada, absolutamente nada nos é interdito. Nem o bem nem o
mal. Nem o heroísmo nem a covardia.
Podemos virar as
costas, ou dar a cara.
Podemos seguir as
nossas paixões e deixá-las voar, sejam quais forem as consequências, ou podemos
cortar-lhes as asas.
Podemos ser
honestos ou desonestos, santos ou pecadores.
Sim, podemos tudo, mas para tudo há um preço a pagar que
se chama consequência. Uma escolha implica sempre ganhar e perder.
Se ganha algo em
sacrifício de algo que se perde, e é precisamente por isso que escolher pode
ser tão difícil.
Esse ganhar e esse perder jogam-se em equilíbrio precário, na eterna luta que já
Eva e a serpente travaram nos primórdios do mundo.
Muitas vezes é impossível resistir à maçã que promete
sonhos, alegria, aventuras e desafios, por isso cair em tentação é,
basicamente, assumir que as consequências virão depois.
Que no momento da escolha não pesam...
Por vezes implicam até o endividamento total de uma vida,
mas no momento de decidir a escolha caiu para o lado errado da balança, num
jogo de roleta, perdendo a partida, mas que se joga até ao fim, simplesmente…
porque não se pode evitar.
Também há aqueles momentos em que, apesar de sabermos que
a escolha certa é um sim ou um não, escolhemos um...
Nem não, nem sim.
Como costumamos dizer, com a boca dizemos não, mas com a
cabeça dizemos sim. Ou vice-versa.
E ficamos no meio da ponte, sem saber que rumo tomar.
São os momentos em que não escolher é uma espécie de
escolha.
Mais tarde ou mais
cedo o impasse irá ser quebrado, mas o que irá pesar nesse momento é muito mais
uma sensação interior de urgência ou limite, que segreda à alma:
Chegou o momento…, do que propriamente os valores, medos,
ou razões lógicas que uma pessoa tem como bússolas.
As escolhas deixem que o afirme, não são só lógicas,
porque quando implicam sentimentos, a razão pode ficar muda de argumentos, que
o coração recusa.
Há por exemplo aquele tipo de escolhas que chamamos de
impossíveis.
Aquelas que, seja qual for a opção, trazem uma dor
dilacerante consigo.
É quase como pedir
a uma mãe que entre dois filhos escolha o que se salva e o que será
sacrificado.
Há escolhas dessas,
que amputam a alma e a deixam aleijada para toda a vida.
Mas o processo é irreversível. De uma forma ou de outra,
mais tarde ou mais cedo, entre duas opções uma terá de ser adotada e outra terá
de morrer.
Escolher é, pois, um exercício que passa por tudo o que
pensamos e fazemos, desde escolher a cor da roupa que iremos usar nesse dia, às
relações que mantemos ou rompemos, aos negócios que levamos a cabo ou recusamos
fazer.
Passa por tudo o que somos por isso não devem ser feitas
de ânimo leve.
As nossas escolhas escrevem o guia da nossa vida e
influenciam de forma incisiva outras vidas.
Acreditamos que tudo o que fazemos afeta o mundo inteiro.
Literalmente!
Cada uma das nossas escolhas bate no lago da vida e produz
uma espécie de vibração que muda o mundo.
Não, não estou a brincar com as palavras.
Tenho a certeza que
se estou aqui, neste momento, a pensar e a escrever, o faço porque se calhar há
milhares de anos alguém descodificou a
palavra escolha.
Os seres humanos
são como os elos de uma corrente, embora a maioria se recuse a aceitar esta
evidência.
A prova é que o
movimento de um só elo afeta a corrente inteira.
Tal como as nossas escolhas implicam consequências e
estas, por sua vez, não nos tocam só a nós, mas a todos aqueles que irão
afetar, direta ou indiretamente.
Como
tão bem disse Augusto Cury; “Cada
ser humano, seja ele um intelectual ou um analfabeto, é uma grande pergunta em
busca de uma grande resposta e acrescenta que o
tamanho das perguntas determinam o
tamanho das respostas”.
É como as nossas escolhas.
São
elas que determinam o nosso futuro e a forma como as levamos a sério, ou nem
por isso, determinam a qualidade da nossa felicidade e da dos que nos cercam.
Não me perguntem por que, até porque, como estou numa fase
crítica de arrumação interior, despejei as gavetas da alma e ando a arrumar e a
selecionar o que lá armazenei – muita coisa vai ser posta fora, estou certa!
Mas há uma certeza
irritante que me acompanha e da qual acho que nunca me vou livrar, porque a
tenho impressa como uma tatuagem na
alma: sejam quais forem as escolhas que eu opte por fazer na minha vida, e seja
qual for o preço que eu esteja disposta a pagar, em termos de consequências, há
um limiar que me parece impossível ultrapassar.
É esse ponto limite, onde a minha liberdade embate.
É onde as tentações
se encolhem.
É onde a rebeldia
se cala e o bom senso tem levado a melhor.
É essa certeza terrível, como um anátema, que me diz sem
margem para discussões, que posso tudo sim, que posso render-me a tudo, mas que
há algo que nunca posso: trair-me a mim mesma...
Esse é o limite de
qualquer escolha.
Aquele ponto em que, mesmo que nada mais tenha peso ou
lógica suficientes, percebemos que a luta chegou ao fim.
Trairmo-nos a nós mesmos é destruir a nossa essência, o
nosso brilho, a nossa nascente da paz, a nossa felicidade.
Trairmos o que
somos provoca um eclipse irreversível na nossa auto estima e auto respeito.
E, esse preço sei que não teria como pagar!
Também não tenho
muito mais a acrescentar, mas achei que era importante, em espírito de
solidariedade com todos aqueles que estão no meio da ponte e se confrontam com
escolhas aparentemente impossíveis, partilhar esta conclusão.
Não sei se por acaso ou não e eu até acredito que Deus escreve mensagens
nos acasos... ao arrumar a minha alma encontrei, no fundo de uma gaveta, a
palavra escolhas e,
antes de decidir em que local a guardar outra vez, decidi tomar-lhe o peso na
mãos e descobri, com espanto, que afinal tem o peso do universo…
Pensemos nisto!
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