EU SOU DO TEMPO... E VOCÊ?
Eu sou do tempo em que se escreviam cartas
começadas por «Espero que esteja tudo bem que nós por aqui cá vamos indo.».
Do tempo do
amola-tesouras.
Das fraldas de pano.
Do tempo em que levávamos o rolo das fotografias ao
fotógrafo e tínhamos de esperar uma semana para que estivessem prontas.
Do tempo em que, de um rolo de vinte e quatro
fotografias, só se aproveitava meia dúzia.
Do tempo em
que havia cabines telefónicas por todo o lado.
Do tempo em que usávamos uma esferográfica para
rebobinar a fita da cassete.
Sou do tempo em que a RTP era canal único.
Do tempo em que, sempre que havia uma avaria
técnica, aparecia a mensagem «Pedimos desculpa por esta interrupção.
O programa
segue dentro de momentos.»
Sou do tempo em que «Gabriela» parava o país
inteiro.
Do tempo da «Casa na Pradaria».
Do tempo em que, na escola primária, os exames eram
feitos com caneta de tinta permanente.
Do tempo em
que havia aulas ao sábado.
Eu sou do tempo em que a amizade se fazia a pé.
Do tempo em que atravessávamos a cidade para chamar
uma amiga. O nosso chat era o quarto, a porta de casa, a rua.
O nosso feed era atualizado nos intervalos das
aulas.
Os nossos pedidos de amizade eram um olhar, um olá.
Havia os amigos, os conhecidos e os desconhecidos.
Não havia confusão e os perfis eram verdadeiros.
Ninguém visualizava as nossas perguntas e ficava
sem responder.
Quando passávamos na rua, não podíamos ficar
offline.
Só mudar de
passeio.
Quem se lembra?
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