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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

O ODIOSO SENHOR APRÍGIO!


 LIMPE SUAS LENTES!!!!


O ODIOSO SENHOR APRÍGIO!

Mal começava o dia, e o senhor Aprígio já acordava reclamando das coisas fora do lugar. Ele enxergava defeito em tudo: brigava com sua esposa, reclamava dos filhos, praguejava o cachorro e procurava confusão com os vizinhos. Nada estava completamente bom para ele, nada o satisfazia inteiramente. Era difícil alguém agradá-lo!

Não bastava ser apenas bom, tinha que ser perfeito. Em raríssimas situações, desafiava–se a emitir algum elogio: sua especialidade era mesmo encontrar os defeitos. Fazia isso com o mesmo compromisso que um religioso conduzia a sua fé. Seu nariz era treinado para farejar problemas de longe, sempre tinha razão e geralmente menosprezava as pessoas que cometiam erros comuns a qualquer ser humano – QUALQUER SER HUMANO VÍRGULA – o senhor Aprígio estava acima das demais pessoas, porque não era falho como elas… Também não se importava com o que os outros pensavam ao seu respeito: acreditava que da opinião alheia pouco se aproveitava. Se as pessoas quisessem fazer as coisas bem feitas fariam, mas elas preferiam fazer tudo errado, por isso tinham que ouvir a ladainha do senhor Aprígio por dias, até cansarem e se mudarem. “Que pessoa difícil é esse senhor Aprígio!”, era o que todos pensavam…

Um dia, o senhor Aprígio sentiu fortes dores na cabeça. Sua esposa, que já conhecia seus maus hábitos e a forma desleixada que cuidava da própria saúde, lembrou-lhe que faziam muitos anos que ele havia se consultado com um médico. Apesar de insistir na crença de que a sua saúde era de ferro e que não precisava de nenhum “doutorzinho” para descobrir o que realmente tinha, foi convencido a agendar uma consulta e mesmo relutando obstinadamente, foi. Saindo do consultório, descobriu que as fortes enxaquecas que continuava sentindo eram provenientes das lentes de grau do seu velho óculos, pois há muito anos não eram trocadas; a recomendação médica era o descarte imediato, pois as lentes não estavam apenas causando enxaquecas, mas também agravavam seriamente a sua visão. Contra vontade, o senhor Aprígio teve que se desfazer do seu óculos. Há muitos anos aquelas lentes eram suas únicas companheiras, num mundo onde tudo estava errado e cheio de defeitos, elas eram suas maiores aliadas contra tudo que batalhava – os defeitos.

Após receber seu novo par de lentes, devidamente ajustadas para a sua visão, o senhor Aprígio percebeu um cenário completamente diferente ao seu redor. Reparou no tom vívido e brilhante do amarelo no laço que prendia os cabelos negros de sua esposa. Permitiu-se admirá-la naquele dia. “Como ela estava bonita…”, lembrou do dia em que a conheceu, “ela não mudou nenhum pouco, continuava linda!”. UM SUSTO!!! Seus filhos haviam crescido assustadoramente… “Ainda ontem eram apenas meninos de colo!”, admirava-se. Estavam quase homens feitos: dois rapazes bonitos e fortes que se dirigiam à porta com muita velocidade para não se atrasarem para a escola. O mascote da casa, que geralmente era praguejado todas as manhãs, pois latia e incomodava muito, agora abanava o rabo para ele em demonstração de amizade; por algum motivo que ainda não conseguia entender, expressou um breve porém verdadeiro sorriso – pela primeira vez tudo lhe pareceu bom e agradável.

O senhor Aprígio percebeu que foi injusto com todos ao seu redor, nesses últimos anos. As velhas lentes de grau junto com seu temperamento difícil, o fizeram enxergar seu cotidiano de forma turva e errônea. “Como a vida poderia ter sido diferente se eu não fosse tão teimoso”, indagou-se. Decidiu se retratar com sua família, amigos e vizinhos. Precisava corrigir todo mau que havia causado às pessoas que estavam sendo alvo do seu mal juízo. E assim ele fez!

Hoje em dia, o senhor Aprígio não carrega mais o adjetivo ‘odioso’ antes do seu nome… Agora sua família, amigos e vizinhos o qualificam como: ‘amigo’, ‘gentil’ e ‘conselheiro’ senhor Aprígio.

***
Limpe suas lentes quando tudo estiver turvo e distorcido, se possível as troque.

Mude sua perspectiva quando não for mais capaz de perceber a beleza que existe ao seu redor.

E procure ser feliz acima de tudo!

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