SIGNIFICADOS DO AMOR!
Tanto os
grandes mestres de espiritualidade, como quase todos os especialistas em
comportamento humano, recomendam o amor como resposta à vida.
No budismo, o amor figura entre
os pensamentos incomensuráveis que levam à iluminação. No
cristianismo o amor é dom supremo, superior mesmo à fé e à esperança.
Mas se há palavra que cause mais
mal-entendidos é essa – amor.
Em verdade, o termo não expressa
uma única realidade, tendo, ao contrário, uma profusão de significados que,
embora afins, se referem a realidades diferentes e muitas vezes até
antagônicas.
Neste particular, o idioma grego
é mais preciso do que as outras línguas e dispõe de vocábulos distintos para
conotar a ideia de amor em seus três principais matizes: eros, filia e ágape.
Eros, o deus do amor na
mitologia, simboliza o amor sensual, que compreende a vontade e o desejo,
amor-apego, portanto. É o amor do adolescente e do homem sempre em busca de
prazer e satisfação dos sentidos. No panteão helênico, Eros apresenta-se como
um menino de asas, munido de arco e flechas destinadas a despertar os ardores
da paixão nos seres humanos. Os gregos primitivos consideravam-no uma
calamidade alada por causa dos distúrbios que a paixão desordenada pode causar
na sociedade. Os adjetivos erótico, erógeno e o substantivo erotismo, muito
usuais na linguagem psicanalítica e mesmo na linguagem coloquial, expressam o
amor que promove a união dos sexos. Trata-se da forma primária de amar,
necessária à perpetuação da espécie.
Em geral, o homem de consciência
egóica só conhece esse tipo de amor e o faz alvo de sua felicidade buscando nas
outras criaturas o que não foi desenvolvido em seu interior.
Existe também o amor-filia.
Philia de phileo, significa considerar com afeição, respeito, estima e
admiração. O termo entra na composição de diversas palavras no vernáculo como
filantropia (amigo da humanidade), enofilia (gosto pelo vinho), filosofia
(amigo do saber) etc. Philos é aquele que estima alguém ou gosta de certas
coisas, ciências ou artes. Embora seja superior ao amor-eros, traz consigo
algum interesse e implica em usufruto de algo (afeto, apoio, bondade, alegria
etc.), estabelecendo a ligação de um ego com outro ou mesmo com uma ciência ou
arte. Consiste em gostar por causa de algum benefício.
Ágape é outra nuance do amor.
Originariamente traduz a ideia de dispensar cortesia, respeito, cordialidade,
hospitalidade ou receptividade, tanto que o substantivo ágape é sinônimo de
banquete ou refeição de confraternização que os primitivos cristãos realizavam
em ocasiões especiais. Ágape é, pois, confraternização, estima mútua, amor
depreendido, sem base sexual. É o amor incondicional e gratuito. Esta palavra
ocorre frequentemente no Novo Testamento para designar o amor de Deus para com
a humanidade, significando também a caridade, que é a base da vida cristã,
diferindo de filia e de eras.
É certo que mesmo no grego essas
três palavras são empregadas muitas vezes com sentido adulterado, visto que a
linguagem corrente dificilmente observa a precisão terminológica. Mas, o que se
pretende demonstrar com esta breve digressão filológica é a necessidade de não
confundir os significados da palavra amor que variam conforme o contexto em que
é empregada, uma vez que, em nossa língua, ora dizemos que amamos a Deus, ora
os nossos pais, ora os nossos filhos, a esposa, a pátria, a filosofia ou as
letras, a religião ou até um cãozinho ou mesmo um sorvete!
No estudo da psicologia humana é
absolutamente necessário distinguir o amor apego (eras), do amor predileção
(filia) e do amor caridade (ágape).
Progredir psicologicamente é
ampliar cada vez mais o amor, do eros adolescente ao ágape espiritual. É
difícil para a maioria de nós compreender o amor universal que inclui até os
inimigos. Mais difícil ainda é amar verdadeiramente todas as pessoas, os
inimigos inclusive. Como é possível amar (gostar, querer estar junto de) alguém
que nos prejudica ou pode nos prejudicar? Certa vez, Martin Luther King
respondeu a essa pergunta com a verve que lhe era peculiar: “Felizmente, Cristo
mandou amar nossos inimigos, não gostar deles”. Sem dúvida, o referido preceito
cristão não manda gostar dos inimigos. Quem gosta de outrem identificasse e só
a patologia mental poderia fazer alguém se identificar com seu assaltante, seu
perseguidor, seu detrator, seu adversário. É, no entanto, perfeitamente
possível dispensar-lhes respeito, cordialidade, consideração, compreensão, sem
lhes desejar o mal. O homem superior conhece a fragilidade humana e sabe que ela
é tanto maior quanto menor o desenvolvimento da consciência individual. Por
isso, perdoa as ofensas que lhe fazem e ama indistintamente todas as pessoas,
embora não permaneça na proximidade de todas.
Compreende-se, também,
facilmente a possibilidade do amor-desapego preconizado por Sidarta Gautama, o
Buda, quando se sabe que esse tipo de amor não quer nada para si, senão a
felicidade de todas as criaturas ou, pelo menos, a diminuição do sofrimento
alheio, quando o sofrimento é inevitável. Este modo de amar é um senti mento
mais elevado que não promana do ego, mas do Eu verdadeiro. O sempre lembrado
apóstolo Paulo explicou habilmente o amor típico do homem consciencialmente
evoluído, dizendo que é paciente, benigno, não-ciumento, não se ufana, não se
ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os próprios
interesses, não se exaspera, não se ressente contra o mal, não se alegra com a
injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo
suporta. Por isso, jamais se acaba esse amor-princípio que move o Sol e as
estrelas.
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