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quinta-feira, 22 de agosto de 2019

COMO ORAR?



Como Orar?
“ Quantos, dentre nós, limpam as mãos de dívidas, agradecendo a Deus cada benção individual recebida durante o dia? ”
A oração é um ponto grandemente controverso da prática religiosa, seguido ou negado francamente.
Aqueles que utilizam a oração como argumento contra a existência de um Deus inteligente, ou de qualquer Deus, afirmam que as orações seriam logicamente razoáveis e eficientes se Deus existisse. São muito perspicazes ao declarar que setenta e cinco por cento das orações ficam sem resposta ou são apa­rentemente negadas.
Sou um crente firme na oração e o leitor também poderá ser, se der à oração a devida oportunidade para demonstrar a sua eficácia. Acusamos erradamente muitas coisas de serem ineficientes e recusamos a aceitá-las, depois de apenas umas poucas tentativas de usá-las ou demonstrá-las. A razão disso é a nossa própria ineficiência e ignorância. Nessas circunstâncias, surpreende-me que tantas orações sejam atendidas.
A compreensão do que realmente é a oração e de como usá-la falta de tal modo no indivíduo comum, que é realmente surpreendente que uma, dentre mil, traga quaisquer resultados. Nas igrejas, são usadas certas preces fixas feitas por pessoas que parecem mais interessadas na eloquência florida do que na verdadeira oração. Jesus ensinou aos seus discípulos como orar, e a versão correta das suas instruções e os exemplos que deu ao mundo são diferentes das preces proferidas por aqueles que se afastaram do misticismo fundamental da oração.
A prece baseia-se na suposição de que Deus é onipotente, onipresente e deseja atender às nossas súplicas. Essa é toda a suposição ou base que necessitamos na oração; penso, porém, que o leitor concordará em que a média das pessoas tem em mente algo mais. Tem em mente não só que Deus é onipotente, onipresente e misericordioso, mas, também, que, com toda a sua harmonização com os seres que criou, ignora, ainda, as suas necessidades, desconhecendo completamente o que necessitam na vida!
Este é o grande erro. Entregarmo-nos à oração com a crença ou sensação de que Deus não sabe o que necessitamos ou o que é melhor para nós e devemos dizer-lhe e explicar-lhe o que desejamos, é cometer um grave erro.
Considerando o assunto do ponto de vista puramente razoável e sensível, não parece estranho que uma pessoa se ajoelhe e peça a Deus que não tire a vida de alguém que acabou de sofrer um acidente? Orar a Deus em tal ocasião e quase ordenar -lhe que não permita que a vida abandone o corpo dessa pessoa ou que certas condições se manifestem, é presumir que nós, com a nossa compreensão finita, sabemos, melhor do que Deus, se certas coisas devem, ou não, acontecer.
Se a pessoa foi ferida, está prestes a falecer e Deus não impede que isso aconteça, por que deveremos presumir que Deus modificará Seu modo de pensar quanto à transição, permitindo que a pessoa viva, unicamente porque pedimos que a sua vida seja salva? Pense em duas pessoas, em lados opostos, cada uma pedindo forças a Deus para que seja o vencedor numa luta entre elas.
Se Deus deve decidir a luta, não é melhor presumir que o Seu julgamento das condições e princípios em ação será suficiente para escolher a pessoa que deverá vencer? A oração, por ambas as partes, não poderá ser satisfatoriamente atendida, pois ambas não poderão sair vencedoras.
O místico sabe que qualquer oração ou súplica baseada na suposição de que Deus ou o Cósmico não sabe o que é melhor e deve ser orientado ou aceitar recomendações ou sugestões é perdida inútil.  Na verdade, isso representa uma censura à inteligência divina e não vai além do campo das nossas ambições pessoais. Certamente, semelhante prece não pode ser proferida sinceramente ou merecer a aprovação Cósmica. Está fadada a fenecer ou a não ter resposta, no próprio momento em que é concebida.
Um Encontro de Mentes 
Para o místico, portanto, a oração é um encontro de mentes. Não é ocasião para pedidos pessoais, mas para comunhão espiritual, ocasião em que a alma e a parte mais íntima de nós mesmos, reverente, sincera e tranquilamente, falam a Deus e expressam os desejos do nosso coração e mente.
Qualquer consideração de que a nossa concepção humana das nossas necessidades deve ser exposta em detalhes ou feitas sugestões ou recomendações, seria tão incompatível com a atitude verdadeira de orar, que desvirtuaria a oração e impediria a realização do que desejamos.
A prece, portanto, deve ser a expressão do desejo de uma bênção. Tenho eu qualquer direito de me dirigir a Deus, como faço na oração, e exigir ou mesmo pedir que me seja dada uma vida mais longa, porque esse é o meu desejo e cheguei à conclusão de que devo ser atendido? Não é isso concluir que Deus pode não ter pensado em dar-me vida mais longa ou pode ter decidido de outro modo, e desejo modificar a decisão e decreto da Sua Mente? Não é isso uma obstrução ao próprio efeito que desejo criar na consciência de Deus?
Tenho eu qualquer direito de me dirigir ao Criador de tudo e dizer que desejo isto ou aquilo de um modo que indica que decidi a respeito dessas coisas, ou solicitar que a Mente Divina aceite o meu discernimento em vez do Seu próprio?
Estou certo de que se pensássemos em nos aproximar do rei de um país ou do presidente de uma república, cujos favores nos tivessem sido concedidos no passado e de cuja generosidade muito tivéssemos nos beneficiado, entregar-nos-íamos à oração de modo muito diferente.
Se tivéssemos recebido muitos favores de um rei e nos fosse permitido ir à sua presença para alguns momentos de comunhão, encontrar-nos-íamos, provavelmente, proferindo antes de mais nada, palavras de agradecimento pelo que recebemos – acrescentando que, se fosse da vontade real, ficaríamos muito felizes se pudéssemos continuar a merecer as mesmas bênçãos ou possivelmente mais.
Nenhum de nós pensaria em solicitar bênçãos específicas sem, primeiramente, ter expressado profundo agradecimento pelo que já receberemos e sem declarar que, embora desejássemos a continuação dos favores reais, não tínhamos direito de pedir mais.
Quantos, dentre nós, oram com esta atitude? Quantos, dentre nós, limpam as mãos de dívidas, agradecendo a Deus cada bênção individual recebida durante o dia? Afirma-se, como norma legal, que não podemos ir a uma corte e solicitar justiça, a menos que a evidência de termos feito justiça a outros indivíduos prove que a merecemos. Como nos di­rigimos a Deus em nossas orações?
É verdade que o pecador e aquele cujas mãos e alma estão enegrecidas pelo mal podem se dirigir a Deus da mesma maneira que aquele que está puro e perfeito, mas, esse pecador deverá, primeiramente, buscar, na misericórdia de Deus, o perdão que não poderá encontrar nas cortes de justiça dos homens. Sua primeira prece deverá ser de arrependimento e remorso, com um pedido de graça divina, de modo a poder comparecer diante de Deus  purificado e digno de novas bênçãos.
Até certo ponto, somos todos pecadores e, para termos certeza de que compareceremos diante de Deus com direito a bênçãos, nossa primeira súplica deverá ser de perdão e graça, acompa­nhada de um sincero sentimento de  apre­ciação pelas bênçãos já recebidas.
Se nos dirigirmos a Deus deste modo, é mais do que provável que ficaremos tão impressionados com a magnificência da nossa participação na vida e com a sublimidade das bênçãos divinas já desfrutadas, que nos esqueceremos das coisas de menor consequência que pretendíamos pedir. É também provável que, se analisarmos a nossa vida nas últimas vinte e quatro horas e nos julgarmos corretamente, chegaremos a compreender que não somos dignos de maiores bênçãos – já tendo recebido muito mais do que poderemos compensar ou, mesmo, merecer.
Nosso pecado poderá consistir, principalmente, de omissões. A dádiva e bênção de viver com a consciência e atividade plena de todas as nossas faculdades acarretam uma obrigação de trabalho, em nome de Deus, para benefício da humanidade. Se recebermos bênçãos sem termos prestado algum serviço, ou devotado alguns dos nossos poderes e faculdades ao benefício de outros, seremos pecadores, embora possamos não ter cometido ato evidente ou violado qual­quer determinação Cósmica.
Devemos estar seguros de termos adquirido merecimento e obedecido, antes de podermos, razoavelmente, esperar que as nossas preces sejam consideradas. Não deverá haver hipocrisia no coração ou mente, auto decepção ou exaltação. Não deverá haver qualquer humilhação; por isso que a grandiosidade e a bondade de Deus, em nós, coloca o Homem acima da humilhação, se ele devidamente considerar a sua relação para com Deus. Deverá haver, todavia, humildade de espírito, simplicidade de mente, pureza de coração.
Nossas orações deverão ser expressões de desejos de maiores bênçãos, com o pensamento: “Seja feita a Vossa vonta­de, não a minha”, dominando a nossa mente. A expressão simples: “Se for da vontade do Pai, volte a saúde ao meu corpo” é uma súplica muito mais contrita, sincera e digna do que uma que exija ou sugira que Deus modifique a lei que se acha em operação, coloque de lado certas condições específicas e estabeleça outras, simplesmente porque é esse o nosso desejo e a nossa conclusão.
O vaidoso que chegou à conclusão de que ele, entre todos os outros, deve ser o vitorioso, não deve suplicar a vitória, mas que Deus conceda a vitória àquele que tenha mais merecimento e seja mais digno. Não só deve a vontade de Deus ser o fator decisivo, mas, também, a todos os outros deve ser concedido aquilo que merecem e verdadeiramente necessitam, quer tenham orado ou negligenciado fazê-lo. A oração jamais deverá ser egoísta e pessoal ao ponto de excluir os demais, especialmente aqueles que estão em maior aflição e necessidades do que aquele que faz a súplica.
Gosto de pensar na oração como raro privilégio de uma entrevista pessoal com o Rei dos Reis e o Senhor das Hostes e que me foi proporcionada a oportunidade de pedir uma graça ou fazer uma súplica nessa entrevista. Deverá ser a mesma coisa que eu próprio concederia ao mundo e a todos, se fosse o rei.
Quando um pedido sobre a súplica que farei, sinto-me, muitas vezes, impressionado com o fato de que não há nada que mais deseje do que as coisas almejadas por inúmeras pessoas. Se apenas uma súplica puder ser feita e uma bênção concedida, deverei ser suficientemente honesto para pedir que seja concedido a outros, e não a mim, aquilo que pedem.
Embora cada ocasião possa se constituir em entrevista privilegiada por meio da qual entraremos em comunhão pessoal com o Governador do Universo, poderemos estabelecer essa comunhão muitas vezes ao dia. Esta é a maior bênção e dádiva além da própria vida; não obstante, poucos a apreciam em ocasiões de paz, saúde e felicidade.  Recorrem a ela somente em momentos de tristeza, atribulações e penas.
Aprendamos a orar e a fazer da oração uma comunhão real e um transbordamento da nossa mente, em pureza e humildade. Essa será uma das perfeitas ocasiões de contato Cósmico. Para o místico, é um momento transcendental em nossa existência terrena.
Por H. SPENCER LEWIS, FRC.
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