... os contos de fadas...!!!
A criança
vive os contos de fada desde o momento em que começa a dizer EU até
aproximadamente os sete anos, podendo contá-las, dependendo da história e de
seu próprio desenvolvimento, até por volta dos nove anos.
Neste período ela não separa a si mesma da realidade circundante
– sua consciência “eu - mundo” é integrada. Durante essa fase, ela vivencia
lenta e gradativamente a separação, ou seja, adquire a noção de sujeito – ela
própria – e objeto – o mundo.
Confiante no mundo, a criança se entrega a ele e vive na ação.
Seus sentidos poucos especializados recebem, sem crítica, as impressões que
possibilitarão o desenvolvimento de sua capacidade de percepção. Ela vive a
realidade de si mesma e do mundo de forma una, profunda e total.
De início há uma vivência inconsciente, principalmente a da luta
entre as forças da matéria (impulso natural ou libido) e as forças da forma
(impulso individual e formativo) que atuam em seu corpo físico. Essa atuação,
às vezes de maneira calma, outras vezes turbulenta, orienta seu desenvolvimento
corpóreo segundo leis de crescimento, maturação, equilíbrio, proporção e
harmonia. Há um predomínio das energias vitais, denominadas “corpo etéreo”,
cujo objetivo é o desenvolvimento físico.
Nessa fase, a criança constrói uma imagem de si mesma e do
mundo. Essas representações são exteriorizadas por meio do desenho e da
modelagem, expressando a atividade de seu próprio corpo em crescimento ou a
realidade externa como ela a percebe.
O trabalho educativo nesse período, objetiva proporcionar
conteúdos para especializar, sensibilizando seu corpo de percepção, e
desenvolver sua habilidade motora – um lado do processo. O outro lado, tão
importante quanto o primeiro, é o desenvolvimento da linguagem e da imaginação
por meio dos contos de fada, preferencialmente os coletados pelos Irmãos Grimm,
em virtude de sua maior fidedignidade à tradição oral. Os contos de fada são
narrados com a certeza de que nada tem a ver com a questão da percepção
sensorial. Como um pequeno Adão, a criança inicia seu reconhecimento do mundo a
partir da força da palavra, nomeando a si e às coisas do mundo, mas o nome
(signo) e o ser (significado) estão integrados, da mesma forma como a própria
criança com o mundo. A palavra com significado pleno, o logos, forma a própria
linguagem da criança, bem como a base ético-moral, hábitos e costumes, sua
confiança no mundo.
Para qualquer criança, ouvir contos de fada seria como um
retorno a um país de origem, país em que se situa o berço da humanidade. Os
conteúdos dos contos de fada são próprios para os pequenos. Sua importância
está na condição de sementes que, lançadas na alma, produzirão sentimentos,
idéias, ideais. Ao se tornarem adultas, enfrentando as dúvidas e dificuldades
da vida, tais pessoas poderão resgatar, conscientemente ou não, a força de suas
verdades. A vivência dessas histórias contadas, a própria energia dos símbolos,
o momento mágico, a intimidade da relação adulta-criança, a confiança
depositada no educador e, portanto, no mundo, representam um tesouro que se
transformará em qualidades para atuar e compreender o mundo e a si mesmo.
Extraído do livro O Fio de Ariadne – Um caminho para a narração
de Histórias – Sueli Pecci Passerini/Editora Antroposófica
Nenhum comentário:
Postar um comentário