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sábado, 16 de agosto de 2014

O EU E O OUTRO.


O Eu e o Outro
Diverte-me muito assistir trechos ou palestras inteiras de Osho. Ele me remete, com seu jeito irônico e sério a um só tempo, ao conhecimento do Sankhya Yoga.
O Zen e o Sankhya, em certos aspectos, são muito semelhantes, e por isso identifico-me com ambos.
Ambos consideram o foco central da transformação e do aperfeiçoamento humano a compreensão do mecanismo mental e, através dessa compreensão, seu domínio.
Ambos consideram que esta busca não tem caráter religioso, mas que se baseia em auto entendimento, em uma percepção mais clara de nossa natureza.
Por causa desse pressuposto, parte-se do princípio de que nada fora de nós é mais importante do que esta busca interna a nós mesmos, e que as alterações que fizermos em nossa autocompreensão acabarão por afetar tudo que nos cerca, a realidade com a qual nos relacionamos.
No Zen e no Sankhya não existe necessidade de fé em nada, de crenças, de salvadores, Cada indivíduo pode, por seu próprio esforço, livrar-se de um estado de ignorância e mergulhar em um outro estado de beatitude, que é antes de santidade, consciência do todo.
E nesse estado, noções como o Eu e o Outro, o Observador e o Observado desaparecem.
Um dos exercícios mentais do Sankhya era conseguir observar-se, observando. Isto, que lembra muito o estado de Zazen, a plenitude do Zen, onde o Eu e o Resto deixam de ser coisas separadas, era a meditação mais importante do Sankhya. É neste instante que Maya desaparece e o que surge em seu lugar só quem passou pela experiência poderia descrever, mas na linguagem do nosso nível de percepção, é como mergulhar no Nada.
 “O Bule é feito de barro, mas é o espaço vazio dentro do bule que lhe dá sua função", diz Alan Watts em um de seus vídeos de meditação.
A Experiência do Vazio é realmente muito importante à auto descoberta, mas só é possível em estado meditativo e para isso, o Zen ou o Sankhya insistem em que o indivíduo deve transcender o intelecto e as crenças que advém com ele e dele, sejam crenças ateístas ou religiosas, sejam convicções ideológicas ou políticas ou espiritualistas.
Não há convicções no Vazio, não existem posições a discutir, não existem crenças das quais precisemos aos outros convencer.
Não há ansiedade, nem desejo, nem felicidade ou infelicidade. Apenas a sublime indiferença, o estado de não existir, de deixar-se vagar, solto, como a pequena pena que dança no vento, sem saber e sem querer saber ou se preocupar para aonde está sendo levada.
O Vazio é libertador e pode ser também angustiante, mas apenas para o Ego. O Ego precisa de definições, de nomes, títulos, funções, explicações, respostas.
O Vazio não precisa do Ego e, portanto, no Vazio, o Ego não sobrevive, e desaparece. Daí o medo que o Ego desencadeia no indivíduo quando se aproxima de sua aniquilação.
É preciso cuidado aí. Só pode se desfazer do Ego quem realmente não precisa mais dele, que se libertou da Ilusão de ser alguma coisa diferente do Ser.
Antes disto, o Ego nos dá um senso de pertencimento social e psicológico e não pode ser destruído sem prejuízo para o nosso próprio equilíbrio psicológico.
Mas se ultrapassamos estas falsas convicções estamos prontos para dar o próximo passo, e o próximo passo, que não precisa ser angustiante, é o mergulho no Grande Vazio, onde nada existe, onde nada precisa existir, onde nem nós temos uma existência individual. O nada é a conexão com tudo que existe, já que é no espaço do Vazio que podem existir todas as coisas, montanhas, animais, o Universo, toda a Criação.
Muitas pessoas esquecem que sem o espaço de Não Existência que nos circunda a possibilidade da Existência em si, paradoxalmente, seria nula.
Mas é assim que as coisas são.
A Não Existência, o Vazio, é fundamental e deve ser experimentado para que o Todo seja finalmente compreendido.
Osho lembra disso a todo instante, coerente com sua visão Zen do Mundo.
Quem está cheio de convicções não pode receber mais nada. Que está cheio de idéias e conceitos não pode ser beneficiado até que se livre deste entulho de anos de acúmulo de idéias de outros sobre tudo e sobre todos.
O verdadeiro conhecimento só brotará quando a Mente esvaziar e deixar as coisas que já estão em nós, brotarem, ou melhor, jorrarem em profusão, como uma rolha em uma garrafa de champanhe sacudida.
Osho não tinha por hábito retirar a rolha de ninguém.
Ele sacudia as pessoas como a garrafa de champanhe, e deixava que a pressão interna fizesse o resto.
É uma estratégia, não serve para todos, mas para alguns foi muito útil.
Tenho dois amigos que frequentaram o Ashram do Oregon. Até hoje estão tocados pela experiência.
O Vazio é inesquecível. E ninguém passa por ele e volta incólume.
A Meditação verdadeira é assim, transformadora, exatamente por fazer nossa mente por alguns instantes, desaparecer.
Parece estranho, mas quando mergulhamos no Vazio, mergulhamos em algo, que nos encharca, como se o Vazio fosse uma espécie de água, de líquido.
Como entender que aonde nada existe, exista alguma coisa? Meditemos sobre isso.
Postado pelo Frater Mario Sales, terça-feira, julho 29, 2014 
Em seu blog: http://imaginariodomario.blogspot.com.br/2014/07/o-eu-e-o-outro.html


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