SAINT- GERMAIN, Fato e
Ficção
Por June Schaa, S.R.C.
De tempos a tempos surgem indivíduos que, pela
força de personalidade e singularidade de caráter, tornam-se lendas em sua
própria época e além. O renomado Conde de Saint-Germain pode ter sido um desses
indivíduos. Mas será que o nome e as lendas, passadas e presentes, pertencem ao
mesmo homem? Em outras palavras, o que é que sabemos verdadeiramente sobre o
homem que portava o nome de Saint-Germain?
Em seu livro O Conde de S. Germain, Isabel
Cooper-Oakley revela que ele poderia ter sido filho natural de duas personagens
da realeza: a viúva de Carlos II, da Espanha, ou do próprio Rei de Portugal.
Entretanto, afirma-se que ele seria filho dum português, dum judeu alsaciano ou
dum coletor de impostos de Rodondo. A Sra. Cooper-Oakley favorece a opinião de
que Saint-Germain era o filho do Príncipe Ragoczy da Transilvânia, em função da
confiabilidade das fontes e outras informações a que teve acesso.
O livro Mistérios Históricos, de Andrew Lang, é uma
fonte à qual recorrem as enciclopédias Britânica e Americana. Estas revelam
Saint-Germain num papel de der Wundermann (“o homem prodigioso”), um célebre
aventureiro que obteve sua considerável fortuna agindo como espião de vários
governantes da Europa. Seus poderes alquímicos teriam sido tão extraordinários
que atraíram a atenção de Luís XV, que, tornando-se o protetor de
Saint-Germain, ordenara a construção dum cômodo especial e um laboratório anexo
para o uso de Saint-Germain.
Embora inúmeros rumores, especulações
e possíveis equívocos formassem o imenso volume de informações e lendas
correntes no Século Dezoito ao redor do nome de Saint-Germain, não há nenhuma
evidência que indique ter sido ele um santo no sentido eclesiástico. Nem há
evidência de que ele foi canonizado pela Igreja Católica Romana. A supo sição
atual da “canonização” talvez se deva em parte pela omissão intencional do
hífen entre Saint e Germain. Entretanto, Saint é parte desse nome, como no nome
de Antoine de Saint-Exupéry, autor de O Pequeno Príncipe, e Louis
S. Saint-Laurent, ex-Primeiro-Ministro do Canadá. Ninguém supõe que esses
homens sejam literalmente santos no sentido religioso.
Muito pouco se conhece a respeito da família de
Saint-Germain. Informações disponíveis de contemporâneos seus indicam sua
extrema reticência em falar de sua vida pessoal. Existem indicações de que o
homem que usava o nome do Conde de Saint-Germain, enquanto na França ou durante
missões francesas, usava nomes e títulos diferentes em outros lugares, causando
suspeita e confusão a seu respeito, então e agora. Entretanto, no Século
Dezoito, membros da realeza e personagens importantes costumavam viajar
incógnitos. Alguns dos mistérios que cercam Saint-Germain talvez se devam ao
seu modo de vida dramático e singular, surgindo daí um fator principal por trás
de muitas das fantasias ou noções infundadas mantidas por seus pares e também
por vários cultos que surgem em seu nome atualmente.
Com base em suas pesquisas, a Sra. Cooper-Oakley
revela que o serviço militar e certos acontecimentos vergonhosos na vida dum
conde francês, Claude Louis de Saint-Germain, muitas vezes são atribuídos ao
Conde M. de Saint-Germain, que falava francês, embora com certo sotaque. Na
opinião dela, muito do mistério que cerca Saint-Germain deve-se à sua
“liberdade principesca” e ao extravagante uso de diamantes. Muitos afirmavam
que ele era um charlatão porque dizia-se que ele podia fazer diamantes e deles
eliminar imperfeições. Mas a mais notável das “descobertas” que lhe imputavam,
que deu origem à maioria das superstições de então e de agora, foi a dum misterioso
“líquido” que prolongaria a vida e pelo qual ele teria vivido 2.000 anos!
Laços místicos
Aparentemente existe pouca documentação a
respeito da sua extraordinária personalidade. O que conhecemos sobre ele provém
de muitas cartas, diários e memórias pessoais de outras pessoas da época. Por
exemplo, sabemos que Saint-Germain destaca-se na correspondência de Grimm e
Voltaire. A Sra. Cooper-Oakley, embora conheça a informação conflitante, ecoa o
Príncipe de Hesse apresentando Saint-Germain como um grande místico e filósofo.
Existem boas razões para esse parecer, porque existem documentos oficiais que
mostram a assinatura do Conde de Saint-Germain junto com as de Saint-Martin,
Cagliostro, Mesmer e outros personagens ilustres dos movimentos Rosacruzes, Maçônico
e Templário da Europa. Com base no material disponível podemos seguramente
supor que Saint-Germain apoiou muitos movimentos místicos do Século Dezoito.
Não há nenhuma evidência ou menção, porém, de que ele tenha estabelecido, ou
desejado que outros estabelecessem, um movimento para perpetuar seus
ensinamentos ou seu nome.
Um artigo do Rosicrucian
Forum de mais de quarenta anos nos oferece algumas explicações quase
desconhecidas dos feitos miraculosos atribuídos a essa figura lendária.
Informa-nos que Cagliostro, também um alquimista Rosacruz muito conhecido,
estava intimamente ligado a Saint-Germain, e que ambos iniciaram muitas pessoas
aos “ritos egípcios de mistérios da Ordem Rosae Crucis” e aos aspectos
simbólicos e práticos da alquimia. Como exemplo, a habilidade
que Cagliostro tinha de fazer diamantes artificiais, um feito miraculoso para a
época, não tem nenhum mistério hoje em dia.
Lendas de imortalidade
Mas a lenda mais surpreendente a respeito de
Saint-Germain gira em torno de sua suposta imortalidade física. Alguns de seus
contemporâneos, e algumas pessoas atuais, atribuíam o segredo de sua
longevidade a um “líquido misterioso” chamado o “elixir da longa vida”.
Entretanto, existe também uma razão alegórica que explica a lenda a respeito do
“elixir da vida”. O excerto seguinte é do artigo mencionado anteriormente:
“Espalhou-se uma história entre a multidão de
pessoas de que Saint-Germain teria vivido no mesmo corpo durante séculos, e que
teria 1.500 anos de idade aproximadamente. Essas histórias fantásticas devem-se
à compreensão equivocada de certos ritos místicos e iniciáticos e a certos
costumes da época. Os Rosacruzes costumavam relacionar sua idade com o grau
alcançado na Ordem. Essa idade, à qual referiam-se eles, não indicava o tempo
real que tivessem vivido neste plano e corpo físico, mas, repito, tinha a ver
com significados ritualísticos e alegóricos. Assim, (um indivíduo) no Primeiro
Grau da Ordem teria três anos de idade, … no Segundo Grau, cinco anos de idade,
no Oitavo Grau, cem anos de idade, e assim por diante. Os não-iniciados de
alguma forma obtiveram essa informação sem relacioná-la com os Graus e a
entenderam literalmente, e, em função dos Graus elevados que Saint-Germain
alcançara na Ordem, sua idade talvez fosse 1.500 anos. Como entendesse isso
literalmente, o povo pensou que ele tivesse descoberto algum elixir da vida…”.
Assim, as pessoas pensavam que ele tivesse uma
fórmula que lhe permitisse continuar com aparência jovem embora tivesse
alcançado essa idade. O Fórum revela também que, como todos os Rosacruzes,
Saint-Germain conhecia as leis da natureza que contribuem para a saúde e
longevidade.
Muito tempo depois de sua morte em Eckernfoerde,
Schleswig, por volta de 1784, começaram a aparecer lendas tão inacreditáveis
que excediam em muito mesmo aos mistérios e milagres atribuídos a Saint-
-Germain em vida. Conforme o Fórum, muito se abusa
atualmente do nome de Saint-Germain. Embora sem qualquer consubstanciação em
fatos históricos ou leis naturais, certos cultos atuais apresentam
Saint-Germain como um grande mestre ascensionado. Entretanto, pelo que
realmente se conhece como verdade a seu respeito, Saint-Germain não poderia ter
difundido, nem sequer apoiado, a maioria das afirmações fantásticas feitas a
seu respeito atualmente.
Concluindo, ninguém pode saber com certeza quem foi
a personalidade real que tinha o nome de Saint-Germain. Sabemos que
Saint-Germain não era um santo no sentido eclesiástico e que jamais
corroborou-se historicamente que ele tenha desejado que qualquer movimento
perpetuasse o seu nome. Por conseguinte, seria sábio fazermos um criterioso
estudo biográfico para que o venerássemos (ou qualquer outra personalidade)
como um grande mestre ascensionado.
*
Publicado originalmente em “O Rosacruz”, edição nº 163, de 1985.
Palestra “O Conte de
Saint Germain, o Rosacruz Imortal” – PHILIPPE DESCHAMPS
Você já deve ter ouvido falar sobre o Conde de
Saint-Germain, certo? Caso contrário, nós vamos explicar aqui alguns detalhes
sobre esta importante e misteriosa personalidade.
Voltaire, escrevendo à Frederico II da Prússia,
disse: “É um homem que tudo sabe e que nunca morre”. O Conde de Saint-Germain
foi um grande aventureiro, alquimista talentoso, uma pessoa importante nas
sociedades secretas do “iluminismo” e que também teve ligação com a Rosacruz.
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