Como a Filha do Sapateiro se tornou a
Rainha de Tara*
Nos velhos tempos, vivia um sapateiro e sua esposa lá perto do
Fosso Knowth, e seu primeiro filho foi levado pela rainha das fadas
que moravam dentro do fosso, e um pequeno leprechaun foi
deixado em seu lugar. A mesma troca foi feita quando o segundo filho nasceu. No
nascimento do terceiro filho, dessa vez uma menina, a rainha das fadas voltou e
ordenou a um de seus três servos que levassem a criança; mas a criança não
podia ser movida por causa de um grande pedaço de ferro, muito pesado para
levantar, que estava no peito do bebê. O segundo servo e depois o terceiro
falharam como o primeiro, e a própria rainha não conseguia mover a criança. A
mãe, que estava sem alfinetes, havia usado uma agulha para prender a roupa da
criança, e era isso o que pareceu as fadas como um pedaço de ferro, pois
naquela época havia virtude no aço.
Então a rainha das fadas decidiu conceder presentes a criança; e
aconselhou cada um dos três servos a dar, por sua vez, um presente diferente. O
primeiro disse: “Que ela seja a mais grandiosa dama do mundo”; o segundo disse:
“Que ela seja a melhor cantora do mundo”; e o terceiro disse: “Que ela seja a
melhor alfaiate** do mundo”. Então a rainha das fadas disse: “Seus presentes
são todos muito bons, mas eu vou dar um presente melhor do que
qualquer um deles: a primeira vez que ela sair de casa, deixe-a voltar para a
casa sob a forma de um rato.” A mãe ouviu tudo o que as mulheres fada disseram,
e por isso nunca permitiu que a filha saísse da casa.
“Quando a menina atingiu a idade de dezoito anos, aconteceu que o jovem
príncipe de Tara, passando por perto em uma caçada, ouviu-a cantar, e ficou tão
fascinado com a música que ele parou para escutar; e, estando a música
terminada, ele entrou na casa e, ao ver a maravilhosa beleza da cantora,
pediu-lhe que se casasse com ele. A mãe disse que não poderia ser e, tirando a
filha da casa pela primeira vez, a trouxe de volta a casa em um avental sob a
forma de um rato, para que o príncipe entendesse a recusa.
Este encantamento, no entanto, não mudou o amor do príncipe pela bela
cantora; e seja explicado que houve um dia acordado com seu pai, o rei, para
que todas as grandes damas da Irlanda se reunissem nos Salões de Tara, e que a
mais grandiosa dama, e o melhor cantora e a melhor alfaiate seria escolhida
como sua esposa. Quando ele acrescentou que cada dama deveria chegar em uma
carruagem, a rata falou com ele e disse que ele deveria mandar para a casa
dela, no dia indicado, quatro gatos malhados e um baralho de cartas, e que ela
faria sua aparição, desde que no momento em que sua carruagem chegasse aos
Salões de Tara, ninguém, salvo o príncipe, fosse permitido chegar perto dela;
e, finalmente, disse ao príncipe: “Até o dia acordado com seu pai, você deve me
levar como uma rata no seu bolso”.
“Mas, antes do grande dia chegar, a rata tinha falado tudo o que
aconteceu para uma das mulheres fada, e então, quando os quatro gatos malhados
e o baralho de cartas chegaram à casa da garota, as fadas transformaram os
gatos nos quatro cavalos mais esplêndidos do mundo e o baralho de cartas na
mais maravilhosa carruagem do mundo; e, à medida que a carruagem partia do
Fosso para Tara, a rainha de fadas bateu as mãos e riu, e o encantamento sobre
a menina estava quebrado, de modo que ela se tornou, como antes, a mais linda
do mundo, e ela estava sentada na carruagem.
Quando o príncipe viu a maravilhosa carruagem chegar, ele sabia de quem
era, e saiu sozinho para encontrá-la; mas ele não podia acreditar em seus olhos
ao ver a dama dentro. E então ela contou sobre as bruxas e fadas, e explicou
tudo.
Centenas de damas haviam vindo para os Salões de Tara de toda a Irlanda,
e cada uma tão grandiosa quanto poderia ser. O concurso começou com o canto e
terminou com a alfaiataria, e a jovem foi a última a aparecer; mas, para o
espanto de toda a companhia, o rei teve que admitir que a mulher estranha era a
mais grandiosa dama, a melhor cantora e a melhor alfaiate na Irlanda; e quando
o velho rei morreu, ela se tornou a rainha de Tara.
* Na mitologia irlandesa, Tara era um lugar sagrado habitado pelos
deuses e lá havia uma entrada para o Outro Mundo (o reino das fadas). Diz-se
também que era o centro do poder na Irlanda antiga.
** No original era “mantle-maker”, uma costureira especializada em fazer
mantles, um tipo de casaco parecido com uma capa que era usado pelas damas
quando elas saíam de casa.
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