DIFÍCIL TAREFA A NOSSA... SERMOS PAIS
DE NOSSOS PAIS...!!!
“Estamos preparados para administrar
a educação de nossos filhos. Mas é difícil para nós acompanhar a velhice e a
deterioração daqueles que nos deram a vida: razões, testemunhos e conselhos.”
“Meu pai tem 92 anos. Todas as semanas espera o domingo ao meio-dia, dia
da família se reunir. Espera ansioso pelo “dia da história”. Nós dois amamos o
mundo da fantasia, do cinema e dos livros. Ele me ensinou a navegar no universo
de princesas, piratas, dragões. Porém meu herói mais fantástico foi
sempre ele. Hoje já não caminha, mas de sua cadeira espera como uma criança que
alguma história o surpreenda. Cinquenta anos depois, quem inventa as histórias
sou eu. No começo, eu ficava triste por isso. Mas agora eu desfruto desses
momentos e devolvo para ele algo que me disse desde pequena. Uma
história é fechada, bonita e triste ao mesmo tempo. Como a vida, não é?”
Essas são história que ouvi e me atingiram muito, também me comoveram e
me fizeram questionar.
Os braços fortes que nos embalavam, agora tremem.
Os olhares que nos protegeram agora se transformam em bolas confusas e
medrosas. A segurança que veio desses lábios transforma-se em impotência. Quem
inventava maneiras de comermos bem, passa a necessitar que cortemos a comida em
pequenos pedaços. Quem contava “um, dois, três” para nos lançar para o céu,
hoje não pode subir a escada sem precisar do nosso apoio.
Da antiga pressa para chegar logo ao
destino, passam a perguntar “Que dia é hoje, filho?” O tempo passa e nossos pais também crescem isso é
difícil.
Ser pai é conter, apoiar, acompanhar o crescimento,
ser fiador dos nossos filhos. Somos crianças quando nascemos e voltamos a ser
quando envelhecemos. Nesta curva, nós filhos deixamos de sermos cuidados e
passamos a ser cuidadores. A equação de proteção é invertida, aqueles que antes
nos vigiavam passam a precisar da nossa proteção. E homens e mulheres estão preparados – embora
muitas vezes não saibamos como – administrar a educação de nossos filhos. Mas não estamos em condições de fazer isso
com nossos pais. Podemos nos questionar e perguntar por que isso nos custa
tanto.
Criar nossos filhos é acompanhar com alegria, medo,
sucessos e erros o começo da vida. E pensar no declínio e na morte de nossos próprios
pais nos deixa tristes, irritados e confusos. Isso nos angustia, nos irrita e
nos confronta com o filme de nossa própria finitude. Ver nossos idosos envelhecendo é testemunhar
um lento declínio dos guerreiros.
“Parte meu coração vê-la tão
frágil, indefesa e desamparada. Eu não consigo me acostumar a vê-la assim. “
A expectativa de vida é muito maior hoje do que há
décadas, devido aos avanços da medicina, às políticas de vida mais saudáveis e à evolução das espécies. Isso é fantástico, mas tudo tem
prós e contras. Nossos pais terão mais chances de chegarem a ser idosos,
mas… Cuidar deles é também dizer
adeus. É relembrar a nossa relação, os desafios, os carinhos, as
tristezas e alegrias. A morte existe e entristece, e se é de nossos pais mais
ainda.
Mas, como Victor Frankl disse
no horror de um campo de extermínio do genocídio nazista, “a última coisa que podem nos tirar é
nossa liberdade”. E mesmo nessa situação de dor, temos
opções.
Há tantas combinações possíveis quanto histórias de
pais e filhos, mas basicamente há três
maneiras de lidar com essa situação. 1.Podemos ser filhos
super-protetores e hipotecar nossas vidas, mas claramente não recomendo
isto. 2. Podemos negar que estamos nos distanciando emocionalmente.
E a 3. Ou podemos
tentar, o mais difícil, isto é: um
equilíbrio saudável e amorosamente acompanhar esta fase de suas vidas. O
equilíbrio é sempre a melhor maneira de evitar a superlotação de consultórios
psicológicos. Diversas consultas em meu consultório estão
relacionadas à gestão de pacientes adultos no relacionamento com seus pais,
como cuidar deles sem invadir espaços, como acompanhar sem exageros, de um lado
ou de outro.
Naturalmente, ter dinheiro será um aliado quando se
trata de construir dispositivos de assistência e suporte. Mas além disso,
o que eu quero apontar é a maneira como você se sente, pensa e se comporta
diante dessa realidade inevitavelmente dolorosa.
E se nossos pais não foram
amorosos conosco?
Alguns vão pensar “meus pais não me amaram e eu sofri muito com isso, como eu me
importo com eles agora?” É um dos pontos mais difíceis desta
questão, quando a relação foi ruim e o amor esteve apenas em segundo plano.
Torna-se muito mais complicado transformar um filho no pai de seu pai.
Há mães e pais que fazem o melhor que podem. Mas eu
também devo dizer, e isso é controverso e deixo o debate em aberto, há pais que não foram capazes, não quiseram
ser pais amorosos. Se os filhos sofreram muito essa falta de
carinho, é muito complicado que devolvam o que não receberam.
Também é importante saber que enquanto o passado
grita, o presente se torna sombrio. É importante resolver os problemas
pendentes com nossos pais quando eles estão vivos. É até idiota dizer isso, mas com lápides não podemos resolver ou
administrar conflitos. Não vamos deixar para amanhã os conflitos que
podemos resolver hoje.
A arte de colocar limites
Por outro lado, nossos pais e nós precisamos
colocar em funcionamento limites e estratégias para lidar com novas
situações. Teremos que lidar com
suas ansiedades, entender angústias, mas também saber dizer não. Pessoas
muito idosas podem ser extremamente exigentes e seus filhos terão que se
diferenciar quando algo é importante e quando não é.
Caixa de Ferramentas
Paciência:
Quase tanto quanto tiveram conosco quando éramos
pequenos. Se eles não se lembram de coisas, se levam muito tempo para se
vestir, se são desajeitados com suas tarefas. É difícil, é difícil, mas paciência.
Criatividade
Estratégias de busca para enfrentar essa nova
realidade são necessárias. Encontre momentos de reuniões, aproveite o que
puder, aproveite a oportunidade para perguntar tudo o que queremos saber sobre
a nossa história, ser criativo ajuda a superar momentos difíceis em nossas
vidas.
Capacidade de colocar palavras em nossas emoções
A raiva é geralmente o disfarce da tristeza.
Identificar se é um ou outro nos permitirá agir melhor.
Os filhos têm a possibilidade de acompanhar e serem
protagonistas dos últimos anos de vida dos pais, têm a chance de dar um pouco do amor que
receberam, têm a maravilhosa oportunidade de administrar a dor com amor e
integridade, e talvez um dia , a ideia de morte torna-se menos tortuosa se
conseguirmos fechar de forma saudável os duelos e desafios que a vida está
colocando no caminho.
Este texto é uma tradução adaptada do texto “Cómo afrontar la difícil tarea de ser padres de nuestros padres” do
psicólogo Alejandro Schujman para o Clarín.
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