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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

OUVIR EM SILÊNCIO...


Ouvir em Silêncio...
Criança sofre pelo que não ouviu. Descubra como…
Sabe aquelas palavras que não foram ditas, mas soam ao longo da vida como se um dia as tivéssemos ouvido?
São sentimentos que registramos como se fossem palavras reais: não há ninguém responsável aqui. Ou: você não é tão bom o bastante, você não é tão bonita quanto sua irmã, sua prima tira boas notas, mas você…, você nunca vai prestar para nada. Ou: nada que faz é bom, sempre faz tudo errado, você poderia ter feito melhor.
Quando se é criança é uma tragédia ouvir no silêncio que existe algo errado em você, ou sentir que esperam que aja, ou seja, diferente de quem você é.
É a conversa que não tinha a intenção de ser ouvida, que ficou suspensa no ar, mas que as crianças sentem, vagamente, e se instala na alma.
 Mesmo que não sejam ditas, as mensagens são ouvidas na psique da criança com tanta clareza como se cada palavra houvesse sido pronunciada com todas as letras.
A palavra não-dita é prejudicial e pode levar uma pessoa à loucura, porque não há evidências do que está realmente acontecendo. É como a criança que vê a mãe chorando após uma briga e ao perguntar o que houve, recebe a simples resposta: nada!
Como nada? Alguém briga e chora por nada? Claro que a incoerência entre o que se demonstra e o que se fala só será percebida quando adulto, pois a criança não tem a percepção para diferenciar e analisar os fatos. Apenas as sentem, nunca conseguindo saber de onde vieram quem disse, ou o que queria exatamente dizer.
A palavra pode ferir e magoar, mas as mensagens sussurradas devoram a confiança da criança. Desta forma o ambiente familiar se torna um lugar que não reflete de volta para ela quem é ou sente.
Como disse Jung: “O que a criança muitas vezes capta são os conflitos não-resolvidos de seus pais”.
A criança precisa entender e tornar consciente seus sentimentos, ouvir alguém confirmar que a mensagem não-falada é, na realidade, verdadeira.
Muitas pessoas acreditam que negar ou evitar falar dos fatos reais irão poupar a criança de sofrer, porém o sofrimento consciente, saber que está ouvindo a verdade, é o que salva.
Quando a criança não tem a confirmação do que está vendo e sentindo, acaba também por não se permitir vivenciar os próprios sentimentos de tristeza, raiva, perda, frustração, gerando sentimentos distorcidos.
Quando existe uma pessoa significativa no mundo da criança, em quem ela deposite confiança, amor, ou que possa interpretar para ela o que ela mesma está sentindo, essa criança irá vivenciar sua realidade como uma realidade verdadeira, mas se acontece o contrário, constantemente sentindo algo que sozinha não consegue interpretar, mas que seus sentimentos não coincidem com a explicação dada, ela desconfiará tanto desse adulto como de si mesma, podendo gerar insegurança quanto aos próprios sentimentos.
Para impedir que as palavras sussurrem, o adulto deve dar voz ao que é demonstrado. A linguagem, ou seja, dizer claramente o que está acontecendo é tão importante para o universo infantil, que há pesquisas e estudos provando o poder da verdade para a cura.
Em Paris há um hospital que acolhe as futuras mães que pretendem “dar” seus filhos assim que nascerem. Sendo alto o índice de esses bebês desenvolverem alguma doença após o nascimento, profissionais treinados conversam com esses bebês, explicando sua condição verdadeira, obtendo assim, curas.
Você se lembra de algum fato que registrou, mas que na época não recebeu nenhuma explicação? Era muito comum não explicar nada às crianças em casos de separação ou morte, deixando a criança à revelia com seus sentimentos, dúvidas e medos, que permanecem, mesmo quando adultos, quando estas situações novamente vêm à tona.
A criança sente o que sente, mas sua linguagem e sua capacidade para interpretar tais sentimentos não estão plenamente desenvolvidas.
O ideal é que o adulto, que possui a capacidade de racionalizar e verbalizar, se responsabilize de observar e refletir o que a criança está sentindo. Não havendo essa confirmação de seus sentimentos, a criança poderá se sentir errada, culpada e desorientada.
Para desfazer o dano que esses murmúrios podem causar é preciso tornar real a mensagem do que esteja acontecendo, seja qual for.
 É importante ajudar a criança a entender o que ela está sentindo, sem julgar se está certo ou errado. A criança precisa que todos seus sentimentos verdadeiros sejam confirmados, para que possam desenvolver a confiança em si mesma.
Quando ela sente que seus pais nunca confirmarão o que sente, acaba desistindo e desenvolvendo uma persona (máscara) falsa.
 Ou seja, quando a criança não tem permissão para ser quem é e vivenciar seus próprios sentimentos, poderá tornar-se outra pessoa.
 Às vezes nos escondemos tão bem que, com o tempo, nem mesmo nós conseguimos mais reconhecer nossos próprios desejos e sentimentos.
 É quando no sofrimento das depressões, ansiedades ou alguma outra doença, podemos ser forçadas a ir à busca de respostas em nosso eu verdadeiro e assim encontrar essa parte escondida de nós.
É isso que se propõe o trabalho de reencontro com a criança interior: descobrir o que ficou escondido e que tanta falta nos faz, para que possamos ser capazes de voltarmos a ouvir a nós mesmos.
A criança interior é para Jung,  algo que existiu não só no passado, mas que também existe agora, apesar das resistências em aceitá-la.
 É a parte de nossa psique que vivencia a angústia e o sofrimento. A menos que nos tornemos conscientes dessa criança dentro de nós, iremos às vezes comportar-nos de modo inconsciente, mobilizados por essa parte que existe em nós.
 Muitos reprimem ou ignoram as vivências de sua infância e de sua criança.
 Quando temos essa espécie de cegueira, estamos limitando nossa consciência e capacidade de viver a vida.
Se não ouvirmos a criança interior que ainda existe dentro de nós, seremos como os pais que não ouvem seus próprios filhos.

Aprendamos a OUVIR nossas crianças e a nós mesmos!
Autora: Rosemeire Zago

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