A CRIANÇA QUE EU NÃO FUI!
A criança que eu não fui aflora agora, após mais de meio século de vida.
Eu acreditei que pudesse abafá-la para todo o sempre e nunca levei a sério todos os seus veementes apelos para ressurgir e manifestar-se.
Ocorre que ultimamente ando esbarrando nela a todo instante, do jeitinho que a deixei há mais de sessenta e tantos anos atrás: extremamente tímida, sobressaltada, sem defesas e para um mundo longínquo, que lhe parecia por demais hostil e complicado.
De família pobre, meus assoberbados pais, lavradores, não tinham tempo para entender a minha interna tragédia, tampouco para resgatarem-me dos dramas que a minha criança resolveu sozinha.
Incorporei todos os rótulos que me deram nas minhas primeiras tentativas de convivência entre os humanos: desajeitada, limitada, com sotaque, estrangeira, miúda, esquisita.
Então a minha criança entendeu que para merecer fazer parte da vida e receber um mínimo de carinho, aceitação, compreensão, era preciso fazer coisas heróicas e grandiosas. Em cima desta idéia pautei toda a minha luta, minha conquista, minha existência.
Tenho que dar um salto aqui - não interessa narrar os meus grandiosos e heróicos feitos - mas é preciso ressaltar sim, os desumanos sacrifícios despendidos nesta empreitada e para onde eles me levaram: depressões profundas, tristezas, mágoas, ressentimentos, saudades, solidão, que por vezes ainda hoje se fazem sentir.
Às vezes me pergunto por que o Supremo não intercedeu por mim naquela época, mandando-me uma angélica criatura para lembrar-me que nada daquilo era preciso e que a despeito das minhas esquisitices, eu era merecedora de amor, respeito e aceitação?
Esta narrativa fica pela metade, pois só agora começo a dar-me conta do tamanho e da gravidade do equívoco. Só agora tenho a disposição de derrubar a muralha de aço entre o meu eu adulto e aquela criança que não me permitiu ser, e que agora explode não aceitando mais o porão escuro onde a trancafiei por tantos anos.
Quero que haja tempo para resgatá-la e deixá-la ser feliz para sempre na vida, sem que nada ela tenha que fazer de sobre-humano, de heróico ou grandioso, de notório ou relevante.
A criança que eu não fui aflora agora, após mais de meio século de vida.
Eu acreditei que pudesse abafá-la para todo o sempre e nunca levei a sério todos os seus veementes apelos para ressurgir e manifestar-se.
Ocorre que ultimamente ando esbarrando nela a todo instante, do jeitinho que a deixei há mais de sessenta e tantos anos atrás: extremamente tímida, sobressaltada, sem defesas e para um mundo longínquo, que lhe parecia por demais hostil e complicado.
De família pobre, meus assoberbados pais, lavradores, não tinham tempo para entender a minha interna tragédia, tampouco para resgatarem-me dos dramas que a minha criança resolveu sozinha.
Incorporei todos os rótulos que me deram nas minhas primeiras tentativas de convivência entre os humanos: desajeitada, limitada, com sotaque, estrangeira, miúda, esquisita.
Então a minha criança entendeu que para merecer fazer parte da vida e receber um mínimo de carinho, aceitação, compreensão, era preciso fazer coisas heróicas e grandiosas. Em cima desta idéia pautei toda a minha luta, minha conquista, minha existência.
Tenho que dar um salto aqui - não interessa narrar os meus grandiosos e heróicos feitos - mas é preciso ressaltar sim, os desumanos sacrifícios despendidos nesta empreitada e para onde eles me levaram: depressões profundas, tristezas, mágoas, ressentimentos, saudades, solidão, que por vezes ainda hoje se fazem sentir.
Às vezes me pergunto por que o Supremo não intercedeu por mim naquela época, mandando-me uma angélica criatura para lembrar-me que nada daquilo era preciso e que a despeito das minhas esquisitices, eu era merecedora de amor, respeito e aceitação?
Esta narrativa fica pela metade, pois só agora começo a dar-me conta do tamanho e da gravidade do equívoco. Só agora tenho a disposição de derrubar a muralha de aço entre o meu eu adulto e aquela criança que não me permitiu ser, e que agora explode não aceitando mais o porão escuro onde a trancafiei por tantos anos.
Quero que haja tempo para resgatá-la e deixá-la ser feliz para sempre na vida, sem que nada ela tenha que fazer de sobre-humano, de heróico ou grandioso, de notório ou relevante.
Sem decepções, sem mais mágoas, sem mais ressentimentos, sem mais tristezas.
Perdoa-me, minha criança!
Eu joguei duro demais com você por ignorância, por garra, por ideal!
Liberto–te agora!
Esteja feliz!
Esteja em paz!
Esteja feliz!
Esteja em paz!
Pra sempre!
Nenhum comentário:
Postar um comentário