GRANDES MULHERES NA TRADIÇÃO ROSACRUZ.
Muitas foram as mulheres
que desempenharam um papel preponderante na transmissão da Tradição Rosacruz.
Entretanto, seus rastros são tênues, mais ainda do que os de seus homólogos
masculinos, pois a necessidade de agir sigilosamente gerava toda uma dissimulação
de suas ações. Não percamos de vista que, em muitas épocas, era a própria vida
que os adeptos de movimentos místicos arriscavam.
Jane Lead
(1623 – 1704)
Essa discípula inglesa de
Jacob Boehme traduziu e difundiu a doutrina do sapateiro alemão. Mas não se
contentou em simplesmente divulgar a teoria da alma do mundo e da Sofia, mas a
expressou pessoalmente em múltiplos e volumosos livros de pensamento inspirado.
Jane Lead tinha muitas visões. Isso possibilitou que ela descrevesse, em forma
de alegoria, a senda interior que conduz o ser humano ao despertar espiritual.
Ela insistia principalmente na necessidade de alimentar continuamente o fogo
divino presente em cada ser.
Na verdade, o renome de
Jane Lead era tão grande que os rosacruzes alemães e europeus em geral, que
embarcaram para o Novo Mundo, em 1693, fizeram uma parada em Londres, onde
receberam desta mística dinâmica os elementos que lhes permitiram fundar a
primeira Loja na América.
Harvey Spencer Lewis
qualificou Jane Lead como uma “mulher maravilhosa, de elevadíssima
espiritualidade”. Esse julgamento nos permite imaginar a personalidade desta
mística. Tudo indica que ela desempenhou um papel importante na transmissão da
Tradição Rosacruz.
May
Banks-Stacey (1846 – 1918)
O ideal Rosacruz sempre
foi defendido vigorosamente por inúmeras mulheres. Entre elas, podemos citar
May Banks-Stacey, cofundadora da AMORC, com o Dr. H. Spencer Lewis.
Pertencente à alta
sociedade, a senhora Banks-Stacey tinha uma grande cultura, tanto acadêmica
quanto espiritual. Estudou Direito e Medicina, mas também ocultismo e
misticismo, incluindo quiromancia e astrologia, pois, curiosa de tudo, não
desdenhava nada. Fez várias viagens a muitas partes do mundo, conhecendo
diversas personalidades importantes, como, por exemplo, Helena Blavatsky, e por
algum tempo foi adepta de Vivekananda. Além disso, elaborou um rito maçônico
feminino, denominado Círculo Místico de Manhattan.
Finalmente, devotou-se ao
que foi a grande missão de sua vida: despertar a Tradição Rosacruz na América.
Estando na posse de diversos documentos fundamentais, ela os transmitiu ao Dr.
Lewis. Ao que parece, ela não se contentou com o papel de mensageira, mas trabalhou
muito concreta e ativamente na organização da AMORC. Até a sua morte, ela
ocupou uma função ritualística na Grande Loja americana, estimada por todos
devido à sua imensa gentileza.
Ella
Wheeler Wilcox (1850 – 1919)
Outra rosacruz eminente
foi a poetisa americana Ella Wheeler Wilcox, que também se dedicou
generosamente a desenvolver a Tradição Rosacruz que estava renascendo na
América.
Considerada por muitos
como uma escritora importante, essa mulher se distinguiu desde cedo pela
orientação otimista de seus escritos. Sua obra exala uma esperança que
transcende todas as dores, uma vontade absoluta de ver o bem, mesmo oculto, em
todas as coisas. É classificada como mestre do claro-obscuro, e é bem disto que
se trata: em todas as coisas, ela introduziu finas nuanças e uma sensibilidade
delicada e simples que falam ao coração.
Ella Wilcox era também
artista: cantava e tocava bandolim, não se separando jamais de seu instrumento.
Mística, ela se interessava por todas as correntes religiosas, mas achava
perigosa a tendência que algumas têm de se proclamarem a única válida.
Ella Wilcox fez parte do Conselho Supremo na fundação da AMORC, e se manteve no
cargo até a sua morte, manifestando seu misticismo entusiasta até o derradeiro
instante.
Não há nenhuma dúvida de
que sua influência positiva deixou uma marca profunda no modo dinâmico como
foram concebidos os ensinamentos escritos da AMORC.
Elena
Roerich
Elena Roerich também
esteve ligada à obra da Ordem. Descendente de príncipes tártaros, bela e
inteligente, era uma jovem muito cortejada da alta sociedade russa. Tocava
piano maravilhosamente bem e pintava. Sentiu-se em harmonia com Nicolas desde
seu primeiro encontro, pois, como ela, ele era artista, idealista e muito
ativo. Ele, por sua vez, viu nela a personificação da Harmonia, da Inspiração e
da Força.
Na realidade, não se sabe
se Elena participou na AMORC como membro ativo, mas, como está comprovado que
seu marido foi afiliado a ela e como se sabe que dentro do casal Roerich era a
dois que se entrava em todo e qualquer caminho, pode-se inferir que ela era, no
mínimo, fortemente simpatizante. Com efeito, de 1926 a 1928, Nicolas Roerich
fez parte oficialmente do “Conselho Mundial” (World Council), o Conselho
Supremo Internacional da Rosacruz, instituído por Spencer Lewis e que visava
instaurar uma paz espiritualista no mundo. Roerich era seu representante para a
Ásia.
Se Nicolas Roerich tinha
em tão alta conta o papel das mulheres, que ele considerava como as verdadeiras
guardiãs da “bandeira da paz”, ou seja, como as únicas esperanças de o mundo
chegar um dia ao conhecimento e à paz, foi, sem dúvida, graças à sua esposa.
Com ela ao seu lado, sua esplendorosa inspiradora, ele se sentia invencível e,
como escreveu um dia, “os obstáculos se transformavam em possibilidades”.
Jeanne
Guesdon (1884 – 1955)
Mais perto dos franceses, Jeanne Guesdon desempenhou um papel de
primeiríssimo plano dentro do rosacrucianismo, como também do martinismo.
Essa mulher manifestou
desde cedo um grande espírito de independência, que a destacava das
mentalidades de sua época. Ela estudou e se engajou na vida profissional numa
época em que o trabalho das mulheres não era forçosamente bem-visto.
Inicialmente professora, mudou-se para a Inglaterra. Depois, estabeleceu-se em
Cuba, onde sua inteligência e seu dinamismo fizeram maravilhas. Julgue por si
mesmo: ela ocupou sucessivamente diversos escalões, de secretária até… diretora
de empresa! E corriam então os anos 20!
Em 1926, afiliou-se à
AMORC e logo serviu de intermediária entre Spencer Lewis e outras organizações.
Contribuiu assim para estabelecer a Rosacruz e o Martinismo em vários países.
Após a Segunda Guerra Mundial, de volta à França, foi ela quem viabilizou o
ressurgimento da Ordem neste país. Notada por sua confiabilidade e seu entusiasmo,
foi imediatamente nomeada Grande Mestre e trabalhou ardentemente para traduzir
os inúmeros documentos do inglês para o francês, bem como para organizar a
recém-nascida Grande Loja, que iria conhecer um progresso espetacular. Mas
Jeanne Guesdon, apesar de suas altas responsabilidades e da eminência de sua
função, permaneceu sempre uma pessoa de extrema modéstia, pois entendia que o
bem é feito sem barulho e sem ostentação.
Entre as rosacruzes
célebres, podemos citar também Edith Piaf (1915 – 1963). Essa famosa cantora,
conhecida por seu enorme carisma e sua generosidade, afiliou-se à AMORC em
1955, data do falecimento do seu querido amigo, Marcel Cerdan. Ela continuou
membro até a sua morte, tendo então atingido o Sétimo Grau. Muito entusiasta,
consciente de ter encontrado uma maravilhosa via espiritual, falava da Ordem a
todos que a cercavam, incentivando seus amigos a se afiliarem.