PACIÊNCIA, MEDITAÇÃO E ARQUÉTIPOS
(Reflexão)
Paciência, arte virtuosa dos sábios, sabedoria desenvolvida para lidar
com o tempo.
É a paciência que nos leva a atuar no momento certo para a semeadura, é
ela que nos possibilita atuação correta durante o cultivo, e para a colheita,
então, nem se fale, é preciso ter paciência. É paciente a contemplação do
florescer, assim, como a das perdas. Sim, as perdas exigem paciência.
Desta forma, entende-se que paciência não é só espera, é também ação.
Ação paciente no tempo certo.
Não se pode confundir, entretanto, a espera paciente com a omissão
consciente, que é um vício de se esquivar das responsabilidades pela inação,
infelizmente muito em voga nos tempos presentes.
O desenvolvimento da arte da paciência se dá na observação atenta da
vida, na presença plena frente a esta.
É a paciência que nos leva a esperar o tempo certo do cozimento, o tempo
certo da formação que é, aliás, enquanto autoconhecimento, contínuo, tendo um
começo, mas nunca um fim anunciado. Jung, por exemplo produziu pacientemente
até sua transição.
Enquanto virtude biográfica, espera-se que a paciência venha com a
maturidade, por isso na mitologia o jovem herói ou a jovem heroína, antes ou
depois das jornadas sempre se aconselha com o velho sábio, com a grande mãe a
grande sacerdotisa, que pacientemente acolhe suas dúvidas e fornece a melhor
orientação para agir.
Infelizmente nos líquidos tempos que vivemos, a idade não garante o
acesso à sabedoria da paciência. Assim, há muitos anciões que são ansiosos. Mas
a culpa quanto a isso não lhes pode ser exclusivamente imputada, pois a
sociedade, ao valoriza excessivamente a força da juventude tende a esvaziar ou
até mesmo marginalizar os velhos e velhas sábias.
Em qualquer idade a meditação é uma excelente prática para o
desenvolvimento da paciência, por isso tem sido praticada por crianças e
adultos que uma vez sentados na calma, sem a necessidade de produção, a virtude
da paciência encontra seu lugar ao ser cultivada na plena presença atingida
neste estado de introversão da consciência.
A meditação pode ser também o portal de acesso ao velho e paciente
sábio, à grande mãe, que jazem dentro de cada um de nós, estando presentes nos
arquétipos do Si Mesmo, o Self ou Eu Interior. Tais arquétipos estão em
sintonia com a riqueza do campo dos potenciais humanos, disponível no
Inconsciente que pertence à coletividade humana.
Assim, medite, e cultive a arte virtuosa da paciência.
Luiz Eduardo V Berni