EU, MENINO...!!!
Eu, menino, sentado na calçada, sob um sol escaldante,
observava a movimentação das pessoas em volta, e tentava compreender o que
estava acontecendo.
Que é o
Natal? - perguntava-me, em silêncio.
Eu,
menino, ouvira falar que aquele era o dia em que Papai Noel, em seu trenó
puxado por renas, cruzava os céus distribuindo brinquedos a todas as crianças.
E por que
então, eu, que passo a madrugada ao relento nunca vi o trenó voador? Onde estão
os meus presentes? Perguntava-me.
E eu,
menino, imaginava que o Natal não deveria ser isso.
Talvez
fosse um dia especial, em que as pessoas abraçassem seus familiares e fossem
mais amigas umas das outras.
Ou talvez
fosse o dia da fraternidade e do perdão.
Mas então
por que eu, sentado no meio-fio, não recebo sequer um sorriso? - perguntava-me,
com tristeza - E por que a polícia trabalha no Natal?
E eu,
menino, entendia que não devia ser assim...
Imaginava
que talvez o Natal fosse um dia mágico porque as pessoas enchem as igrejas em
busca de Deus.
Mas por
que, então, não saem de lá melhores do que entraram?
Debatia-me,
na ânsia de compreender essa ocasião diferente.
Via
risos, mas eram gargalhadas que escondiam tanta tristeza e ódio, tanta amargura
e sofrimento...
E eu,
menino, mergulhado em tão profundas reflexões, vi aproximar-se um homem...
Era um
belo homem...
Não era
gordo nem magro, nem alto nem baixo, nem branco, nem preto, nem pardo, nem
amarelo ou vermelho.
Era
apenas um homem com olhos cor de ternura e um sorriso em forma de carinho que,
numa voz em tom de afago, saudou-me:
Olá,
menino!
Oi!... Respondi
meio tímido.
E, com
grande admiração, vi-o acomodar-se ao meu lado, na calçada, sob o sol
escaldante.
Eu,
menino, aceitei-o como amigo, num olhar. E atirei-lhe a pergunta que me
inquietava e entristecia:
Que é o
Natal?
Ele,
sorrindo ainda mais, respondeu-me, sereno:
Meu
aniversário.
Como
assim? - perguntei, percebendo que ele estava sozinho.
Por que você
não está em casa? Onde estão os seus familiares?
E ele me
disse: Essa é a minha família, apontando para aquelas pessoas que andavam
apressadas.
E eu,
menino, não compreendi.
Você
também faz parte da minha família... Acrescentou, aumentando a confusão na
minha cabeça de menino.
Não te
conheço! - eu disse.
É porque
nunca lhe falaram de mim. Mas eu o conheço. E o amo...
Tremi de
emoção com aquelas palavras, na minha fragilidade de menino.
Você deve
estar triste, comentei. Porque está sozinho, justo no dia do próprio
aniversário...
Neste
momento, estou com você. - respondeu-me, com um sorriso.
E conversamos...
uma conversa de poucas palavras, muito silêncio, muitos olhares e um grande
sentimento, naquela prece que fazia arder o coração e a própria alma.
A noite
chegou... E as primeiras estrelas surgiram no céu.
E
conversamos... Eu, menino, e ele.
E ele me
falava, e eu o entendia. E eu o sentia. E eu o amava...
Eu,
menino: sou as cordas. Ele: o artista. E entre nós dois se fez a melodia!...
E eu, menino,
sorri...
Quando a
madrugada chegou e, enquanto piscavam as luzes que iluminavam as casas, ele se
ergueu e eu adivinhei que era a despedida. E eu suspirava de alma renovada.
Abracei-o
pela cintura, e lhe disse: Feliz aniversário!
Ele
ergueu-me no ar, com seus braços fortes, tão fortes quanto a paz, e disse-me:
Presenteie-me
compartilhando este abraço com a minha família, que também é sua... Ame-os com
respeito. Respeite-os com ternura, com carinho e amizade. E tenha um Feliz
Natal!
E porque
eu não queria vê-lo ir-se embora, saí correndo em disparada pela rua.
Abandonei-o, levando-o para sempre no mais íntimo do coração...
E saí em
busca de braços que aceitassem os meus...
E eu,
menino, nunca mais o vi. Mas fiquei com a certeza de que ele sempre está
comigo, e não apenas nas noites de Natal...
E eu,
menino, sorri... Pois agora eu sei que Ele é Jesus... E é por causa Dele que
existe o Natal.